O Rugby e os Jogos Olímpicos (parte III)
Não obstante o «ponto final» colocado no Blog, estava prometido - por parte do Eng.º Pedro Sousa Ribeiro - o envio de um artigo para publicação sobre o Rugby e os Jogos Olímpicos. Tendo recebido o artigo esta noite, e mesmo tendo em consideração a decisão acerca do destino a dar ao Blog, passamos a publicá-lo, com o devido agradecimento ao autor.
O Rugby e os Jogos Olímpicos (parte III)
pelo Eng.º Pedro Sousa Ribeiro
Em artigos anteriores Rui Vasco teceu varias considerações sobre este tema. Irei tentar neste artigo complementar algumas das suas ideias e informações.
Assim o Rugby, que foi modalidade olimpica de 1900 a 1924, deixou de o ser por razão que pode ser apenas imputada ao Rugby. As nações britânicas nunca deram o seu apoio e não participaram nas diversas edições em que o Rugby foi modalidade olímpica. Por essa razão, os torneios olímpicos tiveram sempre expressão limitada, o que levou o Comité Olímpico Internacional a retirar a modalidade do seu programa. Tal facto teve até o apoio da International Rugby Football Board , então constituida apenas pelas nações britânicas e pelas 3 grandes potências do Rugby do Hemisfeério Sul. A razão desse desinteresse era simples: a IRFB não tinha controlo sobre os torneios olímpicos, cuja organização competia exclusivamente ao COI.
Esta situação manteve-se até aos anos 90. Só após a conferência internacional comemorativa do centenário da IRFB, realizada em 1986, se voltou a pôr a questão da presença do Rugby nos Jogos Olímpicos. Nessa altura, não havia uma Federação Internacional de Rugby reconhecida pelo COI, pois além da IRFB havia a FIRA ( Federation Internacional de Rugby Amateur ) que, sob a hegemonia da França reivindicava também o titulo de federação mundial. E o COI não reconheceria nunca duas Federações Internacionais.
Após a conferência de 1986, a IRFB abriu as suas portas à entrada de todas as Federações Ncionais se bem que a capacidade de decisão se mantivesse exclusivamente nas 8 federações membros de pleno direito ( as 7 anteriores e a França que entretanto havia sido admitida há uns anos atrás ).
No congresso da IRB ( a designação Football já havia desaparecido ) realizado em 1997 em Vancouver no Canadá, foi efectivado o acordo com a FIRA para esta se tornar apenas uma Federação Europeia e aceitar-se o reconhecimento de que a IRB era de facto a entidade governadora do Rugby à escala mundial.
Nesse mesmo congresso, foi votado pela grande maioria dos delegados presentes, que seria o Rugby de Sete, a modalidade a solicitar a sua inclusão no programa olímpico. Apesar do Rugby de XV ser “ o verdadeiro Rugby, a mais bela, mais espectacular, mais pura, mais fascinante” as razões principais para essa deliberação foram essencialmente as seguintes:
- Não ser possivel em duas semanas de duração dos jogos olímpicos realizar uma competição de Rugby XV com mais de oito paises participantes.
- O Rugby de Sete ser de mais facil compreenção para todos aqueles não familiarizados com o jogo.
- Ser possÍvel realizar em dois dias uma competição de Sevens com 16 paises, com alto valor competitivo e espectacularidade, utilizando instalações existentes, o estádio olímpico, que não é utilizado na primeira semana dos jogos.
- Nao desvalorizar o Campeonato do Mundo de Rugby, principal fonte de receitas para a IRB.
De referir que o delegado português votou pela variante de Sevens
Na sequência deste acordo, a IRB solicitou ao COI o seu reconhecimento como federação mundial o que veio a contecer com a assinatura em Biarrritz, Françaa deste reconhecimento, com a presenca de Juan Samaranch e Vernon Pugb, respectivamente Presidentes do COI e da IRB.
Iniciou-se aqui o arranque do projecto de inclusão do Rugby nos Jogos Olímpicos, com a apresentação formal da candidatura junto do COI.
Mas só no início dos anos 2000, esse objectivo passou a ser estratégico para a IRB.
Com a eleição de Jacques Rogge para Presidente do COI, foram realizadas algumas alterações significativas na sua estrutura e modo de funcionamento Assim o COI decidiu nomear uma pequena comissão com o objectivo de fazer recomendações sobre o programa olímpico. Essa comissão analisou com grande profundidade todas as modalidades olímpicas e ainda as quatro candidatas à inclusão : Rugby, Golf, Squash e Karaté. Essa comissão recomendou a eliminação do Basebol e do Softbal do programa olímpico, por não terem suficiente expressão mundial, do Pentatlo Moderno devido ao limitado número de praticantes e de algumas provas de Natação. Por outro lado, concluia com a proposta de introdução do Rugby e do Golf.
Este relatório foi discutido pela primeira vez pelo plenário de COI ( constituido por 115 membros ) na sua reunião de 2003 realizada na cidade do México. Os apoiantes do Basebol e do Softbal, especialmente da América do Norte e Central e Asia Oriental, sucederam-se no uso da palavra em defesa das suas modalidades preferidas, usando uma tactica de esgotamento do tempo disponível para essa discussão. A sua estratégia, aliás muito utilizada em Portugal após o 25 de Abril, resultou totalmente e o tema foi retirado da discussão.
Entretanto a Comissao Executiva do COI decidiu alterar um pouco as regras do jogo .
Submeter todas as modalidades do actual progama olímpico a votação, sendo retiradas do programa todas aquelas que não obtivessem 50% dos votos dos seus membros. Por outro lado, para uma modalidade ser admitida, teria de obter os votos favoráveis de 75% dos seus membros. Este processo foi posto em prática na reunião do COI de Julho de 2005, realizada em Singapura. O Basebol e o Softbal não obtiveram 50% de votos favoráveis sendo portanto eliminados do programa a partir dos jogos de Pequim. Por outro lado, nenhum dos 4 desportos submetidos à votação obtiveram os 75% de votos requeridos, pelo que qualquer deles ficou à porta dos Jogos.
De referir agora que, apesar do Presidente do COI, Jacques Rogge, antigo internacional belga de Rugby além de velejador olímpico, se ter manifestado publicamente a favor da inclusão do Rugby, a grande maioria dos membros do COI são pouco conhecedores do Rugby e do que ele represnta e pelo contrário muito apologistas dos desportos individuais.
Os membros do COI são actualmente 115, havendo apenas um Português, o Eng. Fernando Lima Belo, que votou favoravelmente a entrada do Rugby.
A IRB fez uma forte campanha pela inclusão do Rugby tendo o seu Presidente Sid Millar estado presente nos jogos de Atenas para colocar a posição do Rugby junto ao maior número possivel de membros do COI. ( no que aliás foi auxiliado pelo Adjunto do Chefe da Missão Portuguesa).
O Comité Olímpico dePortugal apoia a entrada do Rugby no programa olímpico, mas não tem qualquer direito de voto, apenas pode exercer pressão sobre os membros do COI, o que aliás tem vindo a fazer.
Apesar do falhanço da primeira tentativa ainda há uma pequena margem de esperança que o Rugby possa vir a fazer parte do programa dos jogos de Londres, quando a sua versão final for discutida e votada pela reunião plenária do COI. Nesta área, o Comité Organizador dos Jogos de Londres 2012, poderá ter uma palavra importante, apesar de já não existir a possibilidade de inclusão de modalidades de demonstração tal como havia até aos jogos de Barcelona.
Pedro Sousa Ribeiro
Dezembro 2006
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