Faça-se justiça...
Em 2001 iniciou-se um novo ciclo no Rugby em Portugal. Uma equipa encabeçada por Tomaz Morais – ex-atleta internacional e novo seleccionador nacional – iniciava um percurso de afirmação (pela positiva) do Rugby português no plano internacional, tanto no clássico jogo de XV como na variante de «Sevens».
Os títulos sucederam-se (em especial na variante de sete) e Portugal conquistou o mais prestigiante título internacional da sua história, quando venceu o Torneio Europeu das Nações (ou «VI Nações B»). Em Novembro de 2005, a equipa de XV chegou ao 15º lugar do Ranking da IRB, e apenas um ano antes havia sido nomeada pela «Board» para a categoria de «Equipa do Ano», no âmbito dos prémios anuais da instância internacional reguladora da modalidade.
Tomaz Morais foi, nesse mesmo ano, nomeado pelo paínel da IRB para a categoria de «Melhor Treinador do Ano», juntamente com técnicos tão prestigiados como Gordon Tietjens (NZ Sevens), Bernard Laporte (França) e Jake White (África do Sul), tendo este último arrecadado o «título».
Legenda: Durante a cerimónia da IRB, com o vencedor Jake White e o neozelandês Gordon Tietjens.
A imagem do Rugby alterou-se, e apesar de ser ainda uma modalidade praticamente esquecida (ou ignorada) neste país dominado pela «paranóia futebolística», o mundo oval luso é hoje respeitado. A face da mudança é, em larga medida, a do seleccionador nacional.
É óbvio que não é justo tirar o mérito a quem, dentro de campo (e até fora dele, pois outros técnicos trabalharam e trabalham em conjunto com o seleccionador nacional), conquistou os títulos que (re)colocaram o Rugby no mapa do desporto nacional. Mas seria igualmente injusto não se reconhecer o trabalho técnico, físico e psicológico realizado pelo Prof. Tomaz Morais junto da sua equipa.
A fase do «empirismo» no treino desportivo acabou. No Rugby e em todas as outras modalidades, sejam elas mais ou menos amadoras, mais ou menos profissionais. O treino científico não é exclusivo de nenhuma modalidade... e ainda bem!
No Rugby português ele está a chegar tarde, mas paulatinamente vai-se impondo.
O técnico nacional não é o único a procurar melhorar todos os dias, estudando, lendo, assistindo a jogos internos e externos, investindo na sua formação. Mas é com certeza o caso mais evidente, e com resultados mais animadores. Pessoalmente, e tendo em conta a minha experiência como atleta de competição, teria em Tomaz Morais inteira confiança, seguindo «à risca» os seus conselhos relativamente a aspectos ligados ao jogo (antes, durante e depois dos 80 minutos em campo...).
Tenho para mim que Portugal ganharia – aliás, o Rugby nacional ganharia! – se Tomaz Morais estivesse envolvido de forma mais ampla no trabalho quotidiano da FPR, entidade que vem provando enormes limitações no domínio organizativo (e não só). Acredito que fechar o seleccionador no campo das selecções seniores é amputar o desenvolvimento do Rugby nacional, não obstante alguns bons projectos desenvolvidos (a espaços) por outros responsáveis técnicos da Federação (como os treinos para os «cinco da frente»).
Quando é a própria FPR a não compreender o capital humano que detém no seu próprio seleccionador nacional... mal vai o Rugby nacional.
* * *
NOTAS
Nota 1: Não se trata aqui de fazer nenhum «culto da personalidade» do técnico nacional, mas apenas de opinar, de forma consciente e honesta acerca daqueles que penso serem os seus méritos;
Nota 2: Agradecemos que, quaisquer opiniões emitidas aqui no blog através da caixa de comentários sejam assinadas, por uma questão de princípio, frontalidade e coragem dos próprios leitores... Há quem o faça sempre, mas há também quem nunca o faça;
Nota 3: Em breve escreverei algumas ideias sobre a preparação da Divisão de Honra 2006/2007, prova que muito teria a beneficiar se a FPR importasse boas práticas internacionais que não apenas o modelo (com o qual discordo...). A Divisão de Honra e os clubes não estão – nem estarão nunca – esquecidos no BELENENSES XV... Muito menos o Belenenses, o nosso clube!
4 Comments:
Oval said...
Seniores
Taça de Portugal
C.F. "Os Belenenses" Vs. C.D.U.L.
Sábado
12h00
Estadio do Restelo
Não fiques em casa
Vem ao Rugby!!!
O jogo já se encontra anunciado, na barra da esquerda, em cima, na secção «Próximo jogo».
Agora... 12:00 horas é horário para ninguém lá ir... mesmo em cima da hora do almoço!
Ja viram o artigo que saiu hoje no "jogo" muito bom mais alguem a puxar pelos lobos e contar a realidade
"Lobos querem recuperar orgulho que trouxeram ferido de Itália e derrotar uma Rússia em ascensão mas ao alcance das Selecção Nacional
JOSÉ RODRIGUES
A luta por um lugar na fase final da Taça do Mundo de 2007 não começou bem para Portugal, que se estreou com um dos mais duros desaires dos últimos cinco anos - 83-0, frente a Itália -, deixando patentes duas realidades distintas - profissional versus amadora.
A selecção italiana conta com um orçamento de 14,5 milhões de euros (Portugal tem 145 mil, ou seja um por cento daquele valor), o que lhe garante uma estrutura altamente profissionalizada, onde não faltam um seleccionador, dois treinadores (avançados e três-quartos), analista de vídeo, preparador físico, director clínico, dois médicos e dois fisioterapeutas, entre outros elementos.
Já do lado luso a comitiva restringe-se a seis elementos e o "quinze" desloca-se sem médico, contando com o incansável Luís Ramusga, o fisioterapeuta de serviço.
O crescimento e desenvolvimento italianos passam também por academias de formação, que garantem o "fornecimento" em quantidade e qualidade ao escalão principal, a que se juntam as "importações" maciças de atletas sobretudo da Argentina, aumentando o nível competitivo o que tem levado um grande número de jogadores a integrarem equipas francesas e inglesas, competindo nas provas de elite do râguebi europeu.
É enorme a diferença entre o amadorismo e o profissionalismo, entre ter todos os meios de trabalho que a tecnologia actual permite e não dispor de coisas quase elementares; entre a dedicação exclusiva ao râguebi e o ter de repartir o tempo pelos treinos e a actividade profissional.
Contudo os Lobos já mostraram grandes resultados frente às Fiji, Itália A, Argentina A e Roménia, jogando sempre com muita garra e amor à camisola, coisa que no sábado não conseguiram demonstrar."
Ora aí está um artigo com o qual apenas concordo parcialmente. Creio que a intenção do jornalista é boa, mas explicar estes 83-0 apenas com a história do profissionalismo vs. amadorismo é... curto! Desresponsabiliza a selecção pelo mau trabalho em campo. Foi uma tarde de desinspiração, mas também foi o resultado de falhas individuais e colectivas que não se podem repetir.
A equipa deve concentrar-se a 100% na Rússia, esperando eu que tenha reflectido e digerido - também a 100% - estes 83 pontos «secos».
Os jogadores portugueses também têm culpas por estarem num plano tão diferente relativamente aquele em que se apresentam os italianos...
Sobre o assunto já escrevemos mais de uma dezena de textos neste Blog.
Um abraço
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