Juniores: razões para a «desistência»
Há uns dias atrás, e no contexto de um comentário aqui deixado por um leitor, fui «convidado» a escrever qualquer coisa sobre o problema real (e de certa forma preocupante) respeitante não apenas ao Rugby mas a todas as modalidades desportivas: a elevada taxa de desistência de jogadores no escalão de juniores.
Efectivamente, trata-se de um problema que deverá merecer uma reflexão aprofundada, e este artigo visa apenas lançá-la junto dos leitores do BELENENSES XV. O máximo que farei é avançar com alguns tópicos que me parecem passíveis de discussão.
Em primeira lugar é preciso perceber que a idade durante a qual um atleta atravessa a categoria de junior é precisamente aquela em que, noutros contextos da sua vida, ganha maior autonomia e simultaneamente mais responsabilidades (encontra-se na fase de acesso ou frequência da universidade, ganha mobilidade com a possibilidade de «tirar a carta» e comprar carro, desperta para outros interesses e dispersa a sua atenção, descobrindo novas dimensões da vida em sociedade).
Os juniores enfrentam pois um enorme desafio: num país onde não existem perspectivas de profissionalização no Rugby, eles devem escolher entre os sacrifícios inerentes à prática desportiva e a possibilidade de ter mais tempo e disponibilidade (física e mental) para apostar na escola, no trabalho e nas relações interpessoais (amigos, namoradas, etc.).
Alguns destes rapazes são «puxados» pelo Rugby através de factores adicionais de motivação: começam a jogar ou treinar com os seniores, são chamados a selecções nacionais, interessam-se por outras dimensões do jogo (arbitragem e treino).
Outros, por razões directa ou indirectamente relacionadas com o jogo, desmotivam-se e acabam por «deixar cair» esta prioridade das suas vidas.
Algumas razões:
a) Incompatibilidade entre a prática desportiva e a vida académica/profissional/pessoal. Trata-se, muito provavelmente, da razão mais frequente.
b) Jogadores que devido a menores capacidades físicas ou técnicas não vislumbram possibilidades de integração nas equipas seniores;
c) Autonomização relativamente à família (alguns jogadores ingressam no Rugby por influência familiar e acabam por deixar a modalidade logo que têm idade suficiente para tomar a decisão de cortar com a tradição, sem medo ou constrangimentos relativamente aos pais ou irmãos mais velhos);
d) Lesões: o jogo ao nível junior é já bastante intenso do ponto de vista físico. Alguns jogadores chegam a este escalão com um historial considerável de lesões (e operações!), e acabam por desistir do Rugby como forma de se protegerem de mais situações penosas, do ponto de vista físico.
O escalão junior é de facto um dos «Calcanhares de Aquiles» do Rugby luso (por ser aquele em que se acentua a diferença entre a qualidade nacional e a qualidade internacional). O que gostariamos de saber era qual a opinião dos nossos leitores acerca das razões inerentes a esta realidade. Fica o convite para a contribuição de cada um.
4 Comments:
penso que os treinadores tb teem um papel importante em motivar os jogadores o que muitas veses nao acontece...
Penso que o escalão Júnior é o mais importante na formação dos jogadores que querem atingir um nível mais elevado de profissionalização (dentro do possível em portugal claro..). Há verdade ao dizer-se que exixtem outras distrações, nomeadamente a faculadade e as namoradas (as mais importantes no meu ponto de vista..).
Apesar de estar no último ano de juvenis, sei o que "vivem" os júniors, por conviver de perto com eles e por ter acesso às mesmas distrações.
É pena que em portugal (e agora bato na mesma tecla..) que o rugby não seja profissionalizado.
Foram muito bem focados os principais pontos que levam ao afastamento de muitos atletas na idade júnior. Perdem-se jogadores muito bons e que tornariam certamente os jogos mais competitivos espectaculares. No caso do CDUL e porque acompanho a equipa de juniores nos últimos 3 anos, foi com tristeza que vi jogadores promissores abandonarem a modalidade: Manuel Pipa, Diogo Robles, Diogo Marques Pinto, Bernardo Pinto de Magalhães, Francisco Góis, Manuel Pires, Diogo Amaral, Bernardo Caupers, Lourenço Machado, Mesquita e ... quase todos foram internacionais nos vários escalões de formação.
Acrescentaria mais dois pontos às razões que levam ao afastamento de jogadores:
O actual quadro competitivo dos escalões juvenis (o problema já vem de trás) e juniores. O desnível nos resultados de alguns jogos nestes escalões é tal que pode criar traumas e desinteresse na modalidade. Esse desnível existe porque se põem em confronto jovens com muita experiência e cultura de jogo, contra outros que começaram a jogar e nem sabem bem as regras. Apesar das diferenças tal não significa que no seio das equipas mais fracas não existam jogadores com grande potencial e que poderão “aparecer” a qualquer momento.
Não estou só a falar das equipas tradicionalmente mais fracas, que através de projectos altamente louváveis e lutando contra inúmeras dificuldades vão singrando, também as recentes equipas B dos clubes com maior tradição (Belenenses, CDUL e Técnico) sofrem “goleadas” que os devem deixar desanimados e pouco seguros das suas reais capacidades.
Quando se realizou o jogo entre o CDUL B e o Belenenses A (0-109) tive a oportunidade de conversar com o vosso presidente que achava muito mal o esquema competitivo e que devia ser reestruturado, uma das hipóteses é existirem desde o início da época duas divisões para evitar estes confrontos desequilibrados. As divisões seriam criadas tendo em consideração as classificações obtidas este ano.
O outro ponto são as viagens longas e que ocupam o dia inteiro e que estragam os programas “sociais” dos jogadores, para diminuir este aspecto negativo pode seguir-se um modelo parecido com o utilizado nas competições dos iniciados, por exemplo serem criadas 3 campeonatos regionais:
• Norte/Centro (CDUP, Académica, Lousã, Santarém, Caldas, Bairrada, …);
• Lisboa (CDUL, Belenenses, Direito, Agronomia, Técnico, Cascais, Belas, Benfica, …) e
• Alentejo e Sul (Vitória, Évora, Elvas, Montemor, Vilamoura XV, …).
Desta forma os clubes teriam menos despesas e para os jogadores seria menos desgastante. Provavelmente até apareceriam mais clubes que com o modelo actual não têm capacidade para participar.
Para o Campeonato Nacional seriam apuradas as melhores equipas de cada região, mas tendo em consideração a dimensão dos clubes e os seus palmarés.
Assim, a região Norte apuraria directamente 2 equipas e uma terceira jogaria um play-off. A região de Lisboa apuraria directamente 4 equipas e 2 jogariam um play-off. A região Alentejo/Sul apuraria 1 equipa directamente e 1 jogaria um play-off.
As 4 equipas apuradas para o play-off jogavam entre si num único dia e no mesmo local e apuravam o oitavo participante no Campeonato Nacional.
Campeonato Nacional I Divisão, com 8 equipas a jogarem entre si em duas mãos, no final a equipa mais pontuada sagra-se campeão nacional, ou a uma mão e depois segue-se o modelo actual, a eliminar e tendo em consideração a classificação obtida na fase anterior.
Campeonato Nacional II Divisão, com as restantes equipas que podem voltar a jogar num esquema regional: Grupo Norte/Centro e Grupo Lisboa/Alentejo/Sul a uma ou duas mãos conforme o calendário e o orçamento dos clubes permitir. Os 2 primeiros de cada grupo jogariam entre si, a eliminar ou todos contra todos.
Enfim, são ideias que se calhar não são implementáveis, mas fica o contributo para o vosso fórum e que desta discussão saia algo que se possa apresentar como proposta, de todos ou vários clubes, à FPR.
Excelentes contributos!
Obrigado!
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