O desporto e o «contacto físico»
Existem múltiplas modalidades que implicam contacto físico entre atletas e equipas adversárias. Modalidades colectivas e individuais. O Rugby é uma delas, e no contexto das colectivas será, por ventura, das mais penosas desse ponto de vista. O jogo de Rugby é duro, não raras vezes violento.
As leis do jogo têm evoluído, no sentido de proteger e salvaguardar a segurança dos atletas. As «regras» tornaram-se mais complexas, o jogo ficou muitas vezes mais lento (noutras áreas tornou-se mais rápido!) e quem não está «por dentro» do Rugby não consegue, muitas vezes, entrar no jogo, percebê-lo.
Vem esta introdução a propósito do desporto e do contacto físico, nomeadamente acerca da forma como muitos atletas entendem a dimensão «contacto físico» no contexto das modalidades que praticam. Eu joguei pólo-aquático, modalidade que não ficará muito aquém do Rugby no que diz respeito ao contacto que implica entre adversários.
No «Pólo» o contacto existe, muito dele é legal, a maior parte dele «invisível» (porque subaquático) e ilegal. No Rugby é mais ou menos a mesma coisa. Acontece que essa dimensão ilegal do contacto deve ser por todos repudiada, severamente punida e desencorajada, desde os escalões de formação (especial neles...) até aos seniores.
Muitos miúdos (e graúdos) persistem em ver o contacto físico como o objectivo da modalidade. É como se o Rugby fosse, na sua essência, uma modalidade em que o contacto fosse o objectivo. Ora, não é assim. O objectivo é defender com eficácia, conquistar a bola e obter pontos, de preferência através de ensaios. O contacto físico é apenas um meio (inevitável e constante, ao longo do jogo) de concretizar os objectivos anteriormente referidos.
Incentivar miúdos a pisar, a eleijar, a jogar de forma «suja» é... desvirtuar a própria mentalidade da prática desportiva em geral e do Rugby em particular. Trata-se de um acto de irresponsabilidade, que a prazo se paga com seniores com maus instintos, que «castigam» o adversário da pior forma, e que podem prejudicar seriamente as suas equipas, com atitudes que (embora ilegais) se tornaram para si meras rotinas.
O problema não é exclusivamente nacional, embora seja o contexto português aquele que me interessa. Todavia, em Portugal (como noutras partes do mundo), encolhe-se os ombros e os problemas não são resolvidos com a rapidez e eficácia que se exigia. Assim, nos jogos de juvenis os rucks continuam a ser o lugar da «pisadela», nas mêlées faz-se de tudo e em vez de se disfrutar o jogo, os nossos «miúdos» acabam por transformar a prática desportiva em verdadeiras batalhas. Na formação, ainda mais que nos seniores, muitos jogos deveriam terminar com menos de 30 jogadores em campo.
Deixo este pequeno apontamento, para reflexão de todos.
Aproveito ainda este texto para referir o caso da jornada deste fim-de-semana do Tri Nations, durante a qual a Nova Zelândia garantiu (e bem!) mais um título máximo do Hemisfério Sul. O ponta australiano Lote Tuqiri, um dos melhores do mundo na sua posição, placou com violência (e de forma absolutamente ilegal) o capitão All-Black, Richie McCaw. A entidade que tutela a competição agiu com rapidez e já o suspendeu por 11 semanas, afastando-o dos jogos que restam aos Wallabies neste Tri Nations.
Legenda: Tiquri executa uma «spear-tackle» a McCaw. Créditos: Rugby Heaven.
Trata-se de um exemplo de punição exemplar, ainda que nestes casos (e aqui refiro-me à formação, ao nível nacional) seja sempre preferível apostar na prevenção. Não posso todavia deixar de lembrar que também os All-Blacks protagonigaram momentos semelhantes no último ano, nomeadamente no primeiro jogo contra os British & Irish Lions (no Verão de 2005) e na partida em Dublin, contra a Irlanda (Novembro de 2005). Nenhum dos atletas envolvidos foi punido... e pese embora a organização dos encontros não seja da responsabilidade da mesma entidade, trata-se de um evidente caso ao qual se aplica a expressão «dois pesos e duas medidas».
5 Comments:
alguem sabe quando é k começam os treinos dos seniores?
Parabens por meter o dedo na (numa das) ferida. O absolutismo Kiwi ja enjoa. Este e um dos casos mais gritantes (a par da recente atribuicao da organizacao do Mundial).
Spear Tackles sao ilegais e extremamente perigosos, e inumeras vezes os AB aparecem ligados a eles...quem nao se lembra ha uns anos de Lomu...e ja ai ter ficado sem castigo???
os casos apontados em 2005 sao gritantes, no primeiro quase se acabou com a carreira de um dos centros mais talentosos do mundo, com episodios caricatos a mistura tipo o delegado ao jogo sair a correr do pais antes de acabar ate o prazo para citar jogadores. Meses depois, tal nao era a consciencia do mal feito, Umaga e deixado no banco contra a Irlanda, mas mesmo assim um perigoso spear tackle e feito, e pela primeira vez em muitos anos, o ecran gigante em Lansdowne Rd fica em branco por varias minutos, para nao mostrar a repeticao, e entre muitas coisas nao empolgar as hostes que em poucos meses viam dois dos seus melhores jogadores sofrerem as maos de manobras ilegais dos AB....que mais uma vez ficaram impunes. Pois claro quando estao no lado receptor de tais manobras ha punicoes exemplares (como deviam sempre acontecer)....ja cheira mal....nao necessitam destas coisas...enfim...ate ao dia em que alguem se lesiona a serio...ou pior. Deus queira que nao.
MM
Parabens por meter o dedo na (numa das) ferida. O absolutismo Kiwi ja enjoa. Este e um dos casos mais gritantes (a par da recente atribuicao da organizacao do Mundial).
Spear Tackles sao ilegais e extremamente perigosos, e inumeras vezes os AB aparecem ligados a eles...quem nao se lembra ha uns anos de Lomu...e ja ai ter ficado sem castigo???
os casos apontados em 2005 sao gritantes, no primeiro quase se acabou com a carreira de um dos centros mais talentosos do mundo, com episodios caricatos a mistura tipo o delegado ao jogo sair a correr do pais antes de acabar ate o prazo para citar jogadores. Meses depois, tal nao era a consciencia do mal feito, Umaga e deixado no banco contra a Irlanda, mas mesmo assim um perigoso spear tackle e feito, e pela primeira vez em muitos anos, o ecran gigante em Lansdowne Rd fica em branco por varias minutos, para nao mostrar a repeticao, e entre muitas coisas nao empolgar as hostes que em poucos meses viam dois dos seus melhores jogadores sofrerem as maos de manobras ilegais dos AB....que mais uma vez ficaram impunes. Pois claro quando estao no lado receptor de tais manobras ha punicoes exemplares (como deviam sempre acontecer)....ja cheira mal....nao necessitam destas coisas...enfim...ate ao dia em que alguem se lesiona a serio...ou pior. Deus queira que nao.
MM
Nova Zelândia campeã antecipada:
A três jornadas do termo, a Nova Zelândia sagrou-se campeã do torneio das Três Nações, feito que garante pela sétima vez na prova e a quarta nos últimos cinco anos.
No Ellis Park, em Auckland, os All Blacks tiveram de se empenhar para evitar a humilhação ante o seu público, ante uma Austrália muito bem organizada e fortemente motivada a jogar a cartada decisiva na competição.
Com apenas três pontos a separar Wallabies e Kiwis, a forma como os australianos entraram no jogo permitiu-lhes continuar a sonhar e ao intervalo o marcador em 11-20 deixava os neozelandeses em apuros.
Contudo, a segunda parte tomou rumo diferente da primeira e uma Nova Zelândia completamente transfigurada acabaria por mostrar raça e capacidade de sofrimento que, aliadas aos pontapés certeiros de Daniel Carter, guiaram a Nova Zelândia à 21ª vitória consecutiva em casa (34-27) e a mais um título na prova que opõe os gigantes do Hemisfério Sul.
Em Novembro próximo, os All Blacks vêm à Europa medir forças com a França (organizadora do Mundial'2007) e com a Inglaterra, detentora da Taça do Mundo.
Fonte: O Jogo
Pessoalmente até sou adepto dos All-Blacks. Gosto muito do estilo de jogo deles, sou entusiasta de vários dos seus jogadores mais cotados - como o Chris Jack ou o Jerry Collins - mas é evidente que a NZ é um pouco beneficiada nestas circunstâncias.
Sobre o assunto vou escrever algo nos próximos dias, tendo como pano de fundo a história dos campeonatos do mundo de Rugby.
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