:: Belenenses XV ::: Atleta ou «apenas praticante»? - II

quarta-feira, agosto 16, 2006

Atleta ou «apenas praticante»? - II

Este pequeno artigo vem na continuação de um outro aqui publicado há dias, que procurava levar os jovens jogadores belenenses a pensar um pouco acerca dos seus comportamentos extra-Rugby e na forma como eles se podem (pela positiva ou pela negativa) reflectir num melhor ou pior desempenho no jogo.

Ora, hoje é tempo de fazer chegar a esses mesmos jogadores alguns conselhos, retirados de uma edição já antiga da revista «England Rugby», acerca do que se deve e daquilo que não se deve fazer, quando se procura melhorar de forma consistente a qualidade como jogador de Rugby. Fiz alguns acrescentos que me pareceram úteis e que não desvirtuam em nada os conselhos dos especialistas que elaboraram o artigo já referido.

O que se deve fazer?

- Dar especial atenção ao treino de força, de forma programada (nunca sem pensar nas consequências ou sem planificação), por forma a prevenir lesões e melhorar de forma consistente da forma física;

- Descansar! E descansar não é apenas dormir. Um jogador de Rugby deve recuperar de forma conveniente após esforços físicos violentos, como são um jogo e um treino. Descansar o corpo e a cabeça, adoptando um estilo de vida calmo, livre de stress (quando possível);

- Garantir a hidratação do corpo durante o dia. Beber água e não apenas café ou chá (este exemplo do chá aplica-se particularmente aos ingleses). O jogador deve transportar consigo uma garrafa pessoal para os treinos, pois a desidratação - mesmo que baixa - afecta muito os níveis físicos e a produção do atleta em treino e no jogo;

- Treinar a 100%, quer no plano físico, quer no plano da concentração. Jogadores que se poupam nos treinos acabam por pagar caro nos jogos. Devem ser os técnicos a preocupar-se com a carga física e com o seu efeitos no atletas. Quanto aos jogadores, cabe-lhes a tarefa de executar o treino com máximo empenho;

- Fazer recuperação activa, sempre que possível. Este tipo de trabalho pode ser garantido através de práticas simples, como as massagens, os banhos gelados, etc. O trabalho de recuperação activa deverá ser discutido por casa atleta com o médico que acompanha a sua equipa;

- Manter o equipamente limpo, ou seja, em boas condições de higiene, e em bom estado. Alguns adereços de segurança utilizados pelos jogadores de Rugby devem estar sempre em perfeitas condições, sob pena de em vez de prevenirem lesões serem responsáveis por elas;

- Fazer uma dieta saudável, ou seja, realizar refeições equilibradas, que garantam os níveis adequados de proteínas, hidratos de carbono e oléos/gorduras saudáveis.

- O jogador de Rugby deve estar atento à sua saúde cardiovascular, promovendo-a. Os técnicos devem adequar o treino às exigências físicas dos jogadores, tornando-os o mais completos possíveis. A coordenação entre equipas técnicas e médicos é cada vez mais necessária;

- O jogador deve preocupar-se em praticar os movimentos básicos do jogo, já que estar em boa forma física mas não saber placar ou passar não é desejável. Este trabalho pode ser feito em treino, mas também em casa, com colegas e até amigos. Ensinar um amigo a passar uma bola de Rugby tem três ventagens: o próprio jogador está a treinar o passe; está a treinar a recepção (muitas vezes em más condições, pois o amigo não domina a técnica); e está a iniciar o amigo como amante da modalidade!

- Planear a semana, e não deixar o Rugby interferir na vida pessoal e profissional, nem secundarizar o Rugby perante tudo. É preciso criar equilibrios, sob pena de se perder ou o Rugby, ou os amigos!

O que não se deve fazer?

- Não se deve beber alcoól no dia anterior ao jogo. O alcoól desidrata o corpo e torna mais lenta a sua capacidade de reacção. Além disso, aumenta o risco de lesão;

- Não se deve abusar do alcoól após o jogo. O terceiro tempo pode e deve envolver socialização com os colegas e adversários, e não é «proibído» beber uma cerveja!... Mas beber em excesso pode afectar a recuperação do jogador durante dias, e ter consequências negativas ao nível do metabolismo. Beber quando se está lesionado acaba por tornar mais lenta a recuperação;

- Não se deve faltar aos treinos. O programa de treinos tem um objectivo, e quando um jogador falta a uma sessão está a boicotar o trabalho do grupo em que se encontra inserido e os objectivos do treinador para essa mesma sessão. Além disso, não treinar com regularidade retira capacidade ao corpo;

- O jogador de Rugby não deve fazer trabalho fisíco como se fosse um culturista. Esse tipo de trino pode tornar o jogador maior e mais forte, mas não adequa o seu corpo às exigências do Rugby;

- O jogador de Rugby também não deve treinar como um «maratonista». O seu treino específico deve responder às necessidades do jogo, que envolvem mudanças de velocidade constantes e sprints seguidos de pausas;

- Não se devem «saltar» refeições. O corpo necessidades de alimentos, tal como os automóveis precisam de gasolina. Dietas irregulares podem influenciar negativamente o metabolismo dos atletas, provocar alterações bruscas de peso/massa.

- Não se deve parar de realizar trabalho durante as lesões. Um atleta lesionado terá sempre a possibilidade de treinar técnicas ou pontos fracos, sem que isso afecte a sua recuperação. O treino nesta fase deverá ser sempre acompanhado por médicos do clube;

- Não se deve deixar que os períodos de paragem (como o Natal) sejam pretexto para perda de forma física. Disfrutar dos períodos de paragem de competições é saudável, mas os verdadeiros atletas mantêm as suas rotinas saudáveis, a todos os níveis.

- O jogador não se deve tornar demasiado obsessivo com o Rugby e com o sucesso. Existem dimensões da vida onde o sucesso é vital... No desporto não. Vital é saber lidar tanto com a vitória como com a derrota. Ainda que desejemos e lutemos sempre a primeira!

Bibliografia:

- England Rugby, n.º15 (pág. 106 a 108)