«Interesse público» são... as Salésias!
Uma das discussões do momento no mundo desportivo português refere-se ao interesse público das competições nacionais de futebol profissional. O tema está debatido, mais do que gasto e, sobretudo, resolvido. Ainda bem.
Outros problemas, bem mais antigos, continuam todavia a ser ignorados, talvez porque não movam milhões nem digam respeito aos três clubes que, em Portugal, monopolizam as atenções dos media e, de certa forma, as simpatias de uma enorme «fatia» da população. Benfica, Porto e Sporting são verdadeiros «eucaliptos», secando tudo o que se encontra à volta. O Belém é, felizmente, um foco de resistência ao seu monopólio. Que assim continue!
Muitos desconhecerão o que foi «as Salésias» e o processo que envolve este mítico lugar da zona Belém/Ajuda/Junqueira, coração do belenensismo primordial. Faremos então um brevíssimo resumo: o campo das Salésias foi o primeiro espaço próprio de treino e competição do Clube de Futebol «Os Belenenses». Ali se ergueu entre o fim da década de 20 e os anos 50 o Estádio José Manuel Soares «Pepe», bem como outros espaços de utilização desportiva, ao serviço das várias equipas do Belenenses (Rugby incluído) e até das selecções nacionais.
Legenda: A primeira equipa de Rugby do Belenenses, no Estádio das Salésias (1928)
Em meados dos anos 50, a CML arranjou um estrategema para «despejar» o Belém do seu espaço, entregando-lhe em troca uma pedreira a norte dos Jerónimos. Nessa pedreira, e com muito esforço físico e financeiro, o Belenenses ergeu o seu actual complexo, que fará no próximo dia 23 cinquenta anos de história!
O motivo do «despejo» (que assumiu contornos caricatos...) era então a necessidade de utilizar o espaço para ali se erguer construções de interesse público, o que por si só justificou (na opinião dos responsáveis camarários) a destruição de um Estádio ímpar na história do desporto nacional. A tal obra NUNCA foi concretizada, e as Salésias ali continuam... já sem bancadas nem estruturas adjacentes. Abandonado e desprezado, do antigo estádio resta uma lápide que lembra que ali se ergueu o primeiro relvado português... e o antigo relvado, já sem relva e apenas com as balizas, apenas usadas pelos miúdos do bairro para os jogos de fim-de-semana.
O problema arrasta-se desde 9 de Setembro de 1956. Tem 50 anos! As Salésias foram destruídas, o Belenenses dispendeu recursos imensos para criar de raiz o Restelo... e o desporto nacional perdeu uma referência e um estádio mítico, recheado de história e «estórias».
Recuperar as Salésias é um imperativo municipal e nacional. Importa unir as entidades que detêm a propriedade do espaço, a CML e o Belenenses, que é o verdadeiro detentor da memória das Salésias. O campo terá de ser reerguido, e a sua tutela deverá ser belenense. Outra coisa não seria de esperar. Ao presidente da CML pede-se apenas que cumpra a promessa do seu antecessor, que através do vereador do desporto prometeu dar especial atenção ao dossier. Não basta aparecer nos eventos desportivos só para a fotografia. Carmona Rodrigues tem de concretizar uma verdadeira política desportiva na cidade de Lisboa. As Salésias merecem, nessa mesma política, absoluta prioridade.
Poderá ser esse o futuro espaço do Rugby azul...
Esterá a FPR na disposição de exercer, também ela, pressão sobre a CML no sentido de dar andamento a um assunto que parece querer ser esquecido pelos responsáveis da edilidade? Onde está o tal «lobby» do Rugby de que falava o plano estratégico 1994-2000?
«Interesse público» são... as Salésias!
1 Comments:
Excelente post. Passei muito tempo da minha infancia na Ajuda (como refere zona Belém/Ajuda/Junqueira), e tenho grandes memorias de me sentar horas a fio com o meu Avo, naquilo que parecia ser o resto das bancadas das Salesias, a ouvir historias fascinantes de eventos (nao so do Belem) passados ali. Lembro-me de deixar a minha imaginacao correr livre enquanto ouvia essas historias e imaginava com grande romantismo e beleza como teriam sido aqueles eventos. As Salesias estarao, para mim, sempre ligadas a ideia romantica do desporto nao profissionalizado, as proezas de valentes jogadores amadores, ao desportivismo e a paixao do povo pelo seu Clube e desporto. Sem duvida mais um triste exemplo de como as autoridades competentes desprezam espacos significativos da memoria colectiva e cultural do Pais. Como ja um grande nome da literatura uma vez disse "Hoje em dia sabe-se o preco de tudo e o valor de nada". O Rugby pela sua natureza e identidade, pode ter uma palavra a dizer, para levantar e mostrar valores que se esquecem na sociedade imediatista de hoje.
Obrigado tambem pela fotografia recente das Salesias, e com nostalgia que revejo um espaco que ja nao piso ha mais de uma decada.
MM
Enviar um comentário
<< Home