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quinta-feira, setembro 07, 2006

«Lobos» na terra dos «Pumas»



De acordo com um comentário anónimo publicado ontem neste mesmo blog, a convocatória de Tomaz Morais para a digressão à Argentina/Uruguai será composta por 25 atletas, representando sete dos principais clubes do Rugby nacional, incluindo a Académica, despromovida à 1ª Divisão em 2005/2006.

Fazendo fé na fonte anónima (e na confirmação aqui surgida posteriormente por Manuel Mata Pereira, jogador internacional A do Belenenses), da convocatória fazem parte os seguintes atletas:

Belenenses
Cristian Spachuk, Sebastião Cunha, João Uva, Diogo Mateus

Direito
João Correia (Pipas), Vasco Uva, Diogo Coutinho, José Pinto, João Diogo Mota, Frederico Sousa, Miguel Portela, António Aguilar, Pedro Carvalho, Pedro Leal

Agronomia
Gustavo, Juan Severino, Duarte Cardoso Pinto, Adérito Esteves, Filipe Saldanha

CDUL
Tiago Girão, Pedro Cabral

CDUP
Marcelo D'Orey, Joaquim Ferreira

Académica
Rui Cordeiro

Técnico
Nuno Taful

Até ao momento, o site oficial da FPR não confirmou esta informação, nem publicou mais detalhes acerca da digressão que apenas através da comunicação social tem vindo a ser divulgada.

Sobre a viagem à Argentina, publicamos em seguida uma entrevista concedida pelo seleccionador nacional Tomaz Morais ao jornal O JOGO, publicada na edição de hoje do diário desportivo nortenho. Refira-se apenas que, tal como informámos há dias no BELENENSES XV, houve pelo menos um jogador que se lesionou durante os treinos da equipa nacional, o que impossibilitou a sua inclusão na lista de atletas que partem para a América do Sul. Trata-se do n.º15 azul Francisco Moreira.

Tomaz Morais
"Continuamos a ter que fazer uma grande ginástica"
JOSÉ PAULO RODRIGUES

A Selecção nacional inicia, hoje, uma digressão à Argentina e Uruguai. O objectivo é ganhar ritmo e melhorar o sistema de jogo para chegar ao Mundial’2007. Antes da partida para a América do Sul, o seleccionador nacional, Tomaz Morais, falou sobre as condições (limitadas) de trabalho, dificuldades e objectivos deste grupo que pretende marcar presença na próxima Taça do Mundo, em França.

O JOGO| Portugal tem a melhor oportunidade de se qualificar para a fase final de um Mundial. Foi possível reunir as condições de trabalho adequadas a esta fase do apuramento?

TOMAZ MORAIS|Conseguimos reunir as condições possíveis, de acordo com o budget definido e as limitações de uma equipa amadora a competir no meio profissional. A oportunidade não é melhor nem pior que as outras. Não nos podemos esquecer que vamos defrontar equipas de grande valor, como a Itália e a Rússia, que vem num crescendo de forma. Os russos fizeram um forte investimento no apuramento, inclusive, reforçando o profissionalismo. Nós também temos os nossos objectivos. Por isso, estamos altamente concentrados, motivados e esperançados em alcançar o sonho do râguebi português. O nosso compromisso é dar tudo o que temos e lutar até ao limite das nossas capacidades para atingir o Campeonato do Mundo.

P|Mesmo o espaço físico fica longe do que seria desejável - o mau estado dos campos do Estádio Nacional é sobejamente conhecido. Houve problemas com lesões decorrentes disso?

R| A direcção do Estádio Nacional tem feito todos os esforços para melhorar as condições de treino da Selecção Nacional, temos conseguido, dentro do espaço existente, encontrar um equilíbrio para treinarmos com as condições razoáveis. Felizmente, neste momento não temos qualquer tipo de lesões ocorridas em treino.

P| E o equipamento do ginásio também está aquém dos parâmetros aceites por outras selecções, a Itália recusou utilizar o ginásio ...

R| O ginásio que temos, e do qual nos orgulhamos pelos excelentes momentos que lá passamos, tem permitido fazer um trabalho com qualidade. O mais importante para mim é a dedicação dos atletas e se eles estiverem dispostos a treinar, o nosso espaço é mais do que suficiente para podermos ter incrementos a todos os níveis. Os italianos foram deselegantes.

P| A condição de jogadores amadores ainda continua a limitar a evolução da equipa?

R| Sim, muito. Continuamos a ter que fazer uma grande "ginástica" para reunir todos num só treino, o que ainda não foi possível desde que a época começou... Todo este sacrifício tem o seu reflexo dentro do campo, tornando esta equipa muito forte mentalmente. De qualquer forma, há coisas que não podemos esconder e só se conseguem com o profissionalismo - a concentração máxima, o repouso, a alimentação e o treino a horas do dia mais adequadas ao alto rendimento desportivo. Continuamos a ter jogadores que por motivos profissionais não podem jogar na Selecção Nacional, isto por si só diz tudo. Algumas das maiores limitações vêm dos jogadores estudantes que não conseguem o adiamento dos exames, nem a justificação de faltas para poderem defender, honrar e representar Portugal. Estas limitações vão dificultar cada vez mais a sobrevivência das selecções amadoras.

P| Como planeou esta digressão à Argentina?

R| Com nove meses de antecedência e muito cuidado pois saibamos que não haveria competição nesta altura do ano em Portugal, nem equipas disponíveis na Europa que pudessem jogar connosco e dar-nos o indispensável ritmo competitivo. Só treinar não chega, há coisas que só conseguimos jogando com equipas de nível superior. Para nos qualificarmos vamos ter, todos nós, que nos superar e jogar melhor do que já alguma vez fizemos, por isso estes jogos na Argentina são fundamentais pelo seu elevado grau de dificuldade e exigência.

P| Não fazer nenhum jogo de preparação nem, pelo menos, dois treinos com o cinco da frente completo, representa dificuldades acrescidas. Que soluções tem para ultrapassar estas falhas?

R| Sem dúvida que uma equipa começa no cinco da frente. Vamos precisar de bolas e eles têm essa responsabilidade. Iremos tentar minimizar os efeitos com treino, estratégia e sistema. De qualquer forma, nem sempre se fazem milagres.

P| Levar apenas um formação de raiz e não contar com um dos aberturas (Gonçalo Malheiro) que fizeram a temporada, não vai condicionar o trabalho futuro?

R| Poderá condicionar. No entanto, o Luís Pissara não tinha disponibilidade para viajar com a equipa e tem também alguns problemas do foro pessoal para poder jogar com a Itália. Estamos à procura de soluções internamente, pelo que o Pedro Leal na posição de formação poderá ser uma delas, inclusive é a posição onde gosto de o ver jogar. O Zé Pinto tem demonstrado uma entrega total, caso não se lesione poderá ficar com a responsabilidade de jogar a formação. O Malheiro, que fez dois grandes jogos em Junho, porque melhorou radicalmente a sua condição física, lesionou-se durante as férias e não poderá, num futuro próximo, dar-nos o seu valioso contributo.

P| Ainda é exigível um esforço suplementar aos jogadores?

R| Sempre. Jogar e treinar râguebi de alto rendimento é uma coisa muito séria e exigente, só ao alcance dos mais predestinados.

P| Que metas traçou para esta digressão?

R| Melhorar o sistema de jogo, dar ritmo competitivo aos jogadores, aumentar a concentração, aumentar o espírito e coesão de grupo.

P| Quais as maiores dificuldades que espera enfrentar?

R| O valor das equipas adversárias e a nossa falta de jogos e rotinas.

P| Estes jogos poderão dar o ritmo necessário à equipa para vencer a Rússia, o nosso rival mais directo?

R| Claro, toda a nossa preparação possível foi organizada nesse sentido. Esse será o grande jogo, de qualquer forma ficou definido por todos nós dentro do grupo que vamos a Itália com os nossos objectivos...

P| Para poder encarar o apuramento com mais confiança, que condições ainda faltam à Selecção Nacional?

R| Mais oportunidades de jogo, precisamos de, pelo menos, um jogo particular entre o jogo com a Itália e o jogo com a Rússia (em Outubro próximo). Que os jogadores continuem a revelar o seu compromisso a cem por cento.

9 Comments:

At 12:35 da tarde, Blogger Rui Silva said...

Esta entrevista do Tomaz Morais tem vários aspectos que gostava de comentar. A falta de tempo não o permite, mas gostaria de apontar pelo menos uma: de que forma o facto de um jogador ser ou não profissional do Rugby influi nos seus hábitos alimentares? Fiquei com a «pulga atrás da orelha»...

 
At 1:03 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Caro Rui Vasco:

Creio que quando o Tomás se refere a habitos referentes a jogadores profissionais, menciona naturalmente alguns condicionantes que nós jogadores amadores levamos no nosso dia a dia e que certamente prejudicam o rendimento quer em treino quer em campo. Um jogador profissional, uma vez que é pago para jogar rugby tem que ter obrigações que, não respeitadas poderão (e deveriam) ser punidas de alguma forma. Sobretudo aqueles que jogam entre amadores (como os profissionais dos nossos clubes) que muitas vezes têm comportamentos até mesmo não apresentados pelos amadores. Não os condeno inteiramente, uma vez que um jogador profissional de rugby em Portugal, está inserido num programa de apenas 1 treino diário (como o resto da equipe), ficando então com 21 horas por dia vagas para fazer o que lhe apetece. É portanto impossível controlar todas as actividades externas aos treinos de um jogador (noites, alimentação, etc). Um jogador profissional deve mentalizar-se portanto que tem responsabilidades maiores para com o resto da equipe e tem que partir de dentro esse comportamento. Naturalmente, que cumprido esse rigor pessoal, um jogador de alto rendimento não pode adoptar hábitos de alimentação muitas vezes adoptadas por nís amadores nos nossos dia-a-dia. Quantas vezes temos um intervalinho entre disciplinas que apenas dá para comer qualquer coisa rápida no bar, quantas vezes no trabalho se passa o mesmo, quantas vezes dá vontade de um MacDonalds, etc... Muitas vezes essas refeições não contém o minimo de elementos necessários para suportat o esforço fisico dispendido por um atleta em alto rendimento. Assim creio que o tomás afirmou aquilo na medida em que um profissional, sabendo das obrigações e riscos a que está sujeito, tem que ter uma mentalidade pessoal que lh permita saber o que deve ou não fazer, nas diferentes actividades do seu dia-a-dia. Refiro-me portanto à alimentação pessoal (fora dos estágios onde a equipe alimenta-se em conjunto), onde naturalmente tendo o dia-a-dia bem estipulado, um jogador profissional tem quase a obrigação de alimentar-se de acordo com o seu plano de alimentação e de acordo a ingerir as substancias que lhe permitirão máximo rendimento.
É uma das desvantagens da profissionalização...

 
At 1:07 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Apenas faço este comentário porque vi e conheço muitos profissionais de clubes que se for necessário fazem semanalmente 6 ou 7 refeições em MacDonalds e PizzaHuts. Não tenho nada contra desde que isso nã lhes altere o rendimento nos treinos e jogos. A partir do momento que se verifica que certos comportamentos incidem na condição fisica de um jogador, se esse jogador é profissional, naturalmente terá que ser punido pois não tem justificação para o sucedido. E isto para não falar de noites...

 
At 2:24 da tarde, Blogger Rui Silva said...

Caro Mata Pereira

Coloquei a questão apenas porque acho que o rigor ou a mentalidade com que um atleta de alta competição (amador ou profissional) encara a sua actividade não está, na minha opinião, relacionada com o dinheiro que ganha (ou não), mas antes com a sua mentalidade e postura face:

- à modalidade
- a si próprio
- à equipa.

Há maus profissionais e bons amadores. E se por um lado é verdade que um amador pode ter dificuldades em coordenar a sua vida com um programa alimentar benéfico, também é verdade que os clubes (e a própria selecção) são muitas vezes culpados de hábitos instalados no Rugby que não tem a ver com a questão do profissionalismo.

Uma questão: é ou não verdade que o consumo de cerveja é generalizado e até muitas vezes incentivado nos clubes? É ou não verdade que os próprios técnicos dos clubes observam de forma passiva comportamentos desadequados dos seus atletas, sem que estes sejam «punidos» por isso?

Lembro-me de um jogador internacional A do Belenenses a fumar, na bancada, ao lado do Adam McDonald, depois de ser substituído ao intervalo. Foi esta temporada, no jogo com a Académica se não estou em erro.

Fui atleta de alta competição, 100% amador. Pagava para jogar. Pagava o meu equipamento. E fui internacional, quer na Natação, quer no Pólo-Aquático. NUNCA me escondi atrás do estatuto de amador para fazer o que sabia que não deveria fazer. Sempre cumpri as recomendações dos técnicos, sempre repousei, nunca fui para a «noite» antes dos jogos/provas e sobretudo sempre tive consciência das minhas obrigações para com o clube e com a equipa.

Só faz falta quem quer assumir a 100% a condição de jogador. Neste caso do Belém ou da selecção. Amador ou profissional é outra conversa. Agora, ninguém pode esconder-se atrás de falsas desculpas e do estatuto de amador para ser irresponsável.

É a tolerância extrema do Rugby para com os comportamentos desadequados que eu critico. Mas enfim, se calhar sou eu que sou um pouco extremista. Deve ser de ter sido nadador, quando treinava 6 horas por dia, 6 dias por semana... com 14/15 anos.

Caro Mata Pereira

Esta conversa não se destina a si, que tenho como um exemplo para os nossos miúdos e até para os seus pares, na equipa senior. Não foi por acaso que foi capitão de equipa em 2004/2005, certo?

O que escrevo (com inteira sinceridade) destina-se a muitos jogadores, de vários escalões, que deveriam ter mais respeito pelo clube, pela camisola, por si próprios e... pelos companheiros de equipa.

Más condições físicas decorrentes de ressacas, má alimentação, falta de repouso... podem sigñificar placagens falhadas, ensaios desperdiçados, mêlées «frouxas».

Recordo um texto do Tomaz Morais, publicado no site da FPR, sobre o Sebastião Cunha... jogador que considero excelente, mas que poderia ser MUITO melhor, se tivesse maior disciplina.

Um abraço com amizade, respeito e admiração,
Rui Vasco

 
At 3:18 da tarde, Anonymous Anónimo said...

O jornal desportivo "A Bola" traz hoje uma página dedicada à possível transferência do Diogo Mateus para a academia de Munster, na Irlanda, actual campeão europeu de clubes (Heinken Cup).

Mais uma vez parabéns, tanto ao Afonso Nogueira como ao Rui Vasco, pelo excelente trabalho desenvolvido.

Um abraço

 
At 3:47 da tarde, Blogger Rui Silva said...

Já tinha essa informação - não confirmada por fontes «oficiais» azuis -, mas obrigado pela dica! Hoje não comprei A BOLA. pois estou farto de não ver o jornal valorizar o Rugby. Aliás, pior que A BOLA só o Record.

Sobre o Diogo, a confirmar-se poderá ser o reconhecimento de um grande jogador, para mim o melhor português da actualidade, sem dúvida.

 
At 3:56 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Caro Rui, não critico a sua opinião, antes pelo contrário, subscrevo inteiramente. O professionalismo/amadorismo antes de mais nada parte da própria pessoa. No entanto é uma questão que dificilmente será alguma vez resolvida em virtude dessas actitudes por parte de alguns jogadores. Infelizmente hoje em dia fala-se cada vez mais na profissionalização ou semi-profissionalização de atletas, embora cho que estejamos muito longede conseguirmos atingir esse patamar, sobretudo não só por falta de verbas mas também por comportamento dos próprios jogadores. Apenas referi no meu anterior comentário que o exemplo deve vir de cima, e como tal não me importo de ter profissionais no meu clube (ou mesmo jogadores portugueses pagos), desde que esses atletas justifiquem esses subsidios. Infelizmente não são 6 nem 7 os jogadores séniores do Belenenses que são subsidiados, e que muitas vezes são os primeiros a terem maus comportamentos ou comportamentos não dignos de jogadores profissionais ou semi-profissionais. Mas como digo, creio ser um assunto acima de tudo que deveria ser bem estipulado e conduzido pela direcção, e naturalmente também pelo próprio jogador. Existiu o mesmo relativamente a jogadores estrangeiros (ou recém portugueses) na selecção, o que cria mau estar no grupo. Mas como referi, fui criado no belenenses como amador e a minha dedicação baseia-se pela paixão pelo desporto e não por rendimentos financeiros que daí poderei adquirir. No entanto, da mesma forma obrigo a que aquando da minha ausencia a treinos ou qualquer outra indisponibilidade justificada, não me venham chatear ou duvidar da minha palavra, pois como amandor tenho naturalmente interesses escolares à frente da minha vida de jogador. Infelizmente, para muitos treinadores isso não se verifica, pois atleta que falta a um treino ou chega atrasado supostamente passa de titular para suplente, e muitas vezes são esses profissionais ou semi-profissionais os primeiros a pisarem orisco. Mas polémica à parte, como se vê é ainda um assunto muito longe de ser esclarecido e resolvido.

Quanto ao Diogo Mateus, o jogador esteve 5 dias na Irlanda a fazer testes de aptidão no clube Munster, e no entanto apenas não se divulgou a notícia uma vez que o nosso grande vice-capitão ainda se encontra á espera de uma resposta dos Irlandeses.

Continuação de bom trabalho.

 
At 4:10 da tarde, Blogger Rui Silva said...

A confirmar-se a sua partida para Munster, será uma excelente notícia para o Diogo e para o Rugby português, mas uma grande perda desportiva para o Belenenses.

Enfim, acima de tudo acho que é o reconhecimento de um grande atleta, que tem vivido para o Rugby. O Diogo Mateus será (já é) um exemplo para os mais novos. Tenho-o como um jogador muito bom, um atleta empenhado e que pratica sempre jogo limpo.

Relativamente ao dilema treinos/escola... Também eu sempre coloquei os estudos à frente do desporto, tendo aliás abandonado o Pólo-Aquático durante o meu 3º ano de Universidade. Compreendo perfeitamente!

Mais um abraço azul
Rui Vasco

 
At 4:14 da tarde, Blogger Rui Silva said...

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