L'Equipe entrevista Dominici

Legenda: Christophe Dominici (Créditos: Phil Cole, Getty Images)

A edição do jornal desportiva francês L'Equipe de domingo passado, 17 de Setembro, publica uma extensa entrevista com o internacional francês Christophe Dominici, actualmente ao serviço da equipa lider da Liga Top-14 gaulesa, o Stade Français.

Dominici é para mim um excelente jogador, e não é por mero acaso que tem no seu currículo mais de 50 internacionalizações ao serviço da equipa nacional francesa. Na minha memória (aliás, creio que na memória de todos os amantes do Rugby) perdura a espectacular arrancada durante a meia-final do Mundial de 1999, contra a Nova Zelândia, quando correu quase meio campo por entre defesas contrários, sendo apenas parado em cima da linha por Christian Cullen. Dessa jogada resultou um dos ensaios da vitória gaulesa, e muita projecção mediática para o veloz ponta dos «Blues».

O que é certo é que a sua carreira tem conhecido altos e baixos, incluindo uma paragem forçada por motivo de depressão. Dominici tem entrado e saída da equipa francesa, o que acaba por provar que quem sabe não desaprende, e que apenas uma melhor ou pior condição física/psicológica o pode, neste momento, retirar do leque de opções de Laporte.

Ao L'Equipe, Dominici fala da Liga francesa, da sua carreira e do Mundial de 2007. E é precismente no «capítulo Mundial» que surge uma declaração surpreendente aos olhos de muitos. O internacional gaulês, que lembra que a França não organizará nenhum evento da dimensão do Mundial de 2007 nos próximos anos, refere o seguinte: «Hoje, à parte dos apaixonados pelo Rugby, ninguém sabe que vai haver uma Taça do Mundo em França». O jornalista (Jean-Christophe Collin) e o jogador não perdem aliás a oportunidade para comparar a prova que se vai disputar em França e o Mundial de Futebol da Alemanha, bem como as respectivas consequências para cada um dos países.

É claro que a organização do mundial pode ser responder com os impressionante número de bilhetes vendidos: mais de um milhão! Todavia as declarações de Dominici não podem deixar de fazer pensar os responsáveis da Rugby World Cup Ltd. e da IRB, pois a modalidade não se pode fechar dentro do grupo (alargado) de amantes que tem em múltiplos países: pelo contrário, ela tem de disputar o estatuto de modalidade n.º1 também nas nações da Europa onde o futebol (e até outros «desportos») têm maior projecção e número de adeptos.

O problema português não é portanto exclusivo!

É claro que aqui, na nossa terra, ele se reveste de uma roupagem específica. Os problemas são diferentes daqueles que existem em França, na Escócia ou no País de Gales, para referir alguns exemplos de países onde o Rugby tem maior expressão. Mas é também aqui que os «apitos dourados» e afins abrem campo de manobra às modalidades menos mediatizadas para captar mais praticantes e adeptos.

Portugal encontra-se prestes a disputar dois importantes jogos relativos ao apuramento para o França 2007. Importa por isso aproveitar estes encontros - em particular aquele que se disputa em Portugal - para dar uma maior visibilidade à modalidade. Importa extravazar as fronteiros que terminam nos «amantes do Rugby».

Escolha-se um Estádio digno, com boas condições, bons acessos e capacidade adequada a um embate internacional; façam-se cartazes e aproveite-se o início do ano lectivo para os espalhar pelas escolas; convide-se as escolas a estar presente... não com um papelinho, mas com visitas dos nossos jogadores internacionais aos locais onde se encontram os miúdos. Enfim, leve-se o Rugby às pessoas, e não se espere que elas venham ao Rugby!

É que o sofá, o centro comercial ou mesmo o campo da bola estão mesmo ali ao lado, e são tão confortáveis para a maioria dos portugueses...

Vamos todos (federação, clubes, jogadores, dirigentes, técnicos, jornalistas e adeptos) fazer um esforço real para inverter a situação?