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sábado, agosto 05, 2006

Jogos psicológicos no Tri Nations 2006

O treino psicológico - chamemos-lhe a preparação mental - dos jogadores e técnicos dos clubes e selecções deveria ser uma realidade generalidade há muito no desporto de topo, em termos nacional e internacional. Assim não é. Mas os jogos psicológicos - para os quais as equipas, técnicos e jogadores podem estar mais ou menos preparados - são uma realidade tão antiga como a própria competição.

A edição 2006 do Tri Nations tem sido exemplar em termos de jogos psicológicos. Quem acompanha a imprensa especializada é todos os dias surpreendido(a) com notícias mais ou menos caricatas acerca de equipas, jogadores e treinadores, cujo objectivo mais parece ser desestabilizar os grupos do que engrandecer as competições.

Este tipo de compostamento não é exclusivo do Rugby (ainda há semanas, durante o Mundial de Futebol, os portugueses sofreram na pele os «mind games» de holandeses, ingleses e franceses...), mas é certamente estranho que numa modalidade onde os valores do fair-play e da honra são tão apregoados o jogo seja tantas vezes disputado fora das quatro linhas.

Alguns exemplos:

- A troca de galhardetes em torno do novo «haka» Kapa o Pango, com as equipas técnicas a envolverem-se num diálogo indirecto nada dignificante para o Rugby. Até em Portugal, no dia do jogo, o diário «A Bola» ocupava quase uma página a falar deste assunto secundário, dispensando apenas meia-dúzia de linhas para o «jogo jogado».

- A pressão lançada sobre o desempenho dos neozelandeses nos alinhamentos, ainda que justificada, tem como objectivo tornar ainda mais difícil a correcção dos erros que provocam tantas perdas de bola. Os australianos e sul-africanos têm explorado a questão (bem como a imprensa europeia, já a pensar no França 2007);

- A recente notícia acerca das intenções de Graham Henry em terminar a sua ligação aos All-Blacks após o Campeonato do Mundo procura também ela dar uma ideia de cansaço no grupo neozelandês;

- A pressão lançada sobre o australiano Stephen Larkham antes do jogo com a África do Sul procura precisamente condicionar a sua actuação;

- Três jogadores «de topo» (não identificados) da equipa australiana são acusados de ter pressionado os responsáveis wallabies para despedir Eddie Jones (actualmente ao serviço dos Reds) das funções de seleccionador nacional. Questionado sobre o assunto, o capitão George Gregan recusa-se a comentar o passado, e afirma que só fala do futuro. Questionado acerca do futuro (se fará ou não a Tour sul-africana à Europa, no Outono) diz que só fala do Tri-Nations...

- As arbitragens têm sido largamente comentadas, e em especial as formações ordenadas (e o critério dos árbitros na marcação de faltas aos packs) estão no centro das atenções do mundo oval.

É claro que no contexto «Tri Nations» estamos a falar de profissionais, mas que são humanos, e por isso permeáveis ao que se diz sobre o jogo e os seus protagonistas. Em alguns casos, a pressão funciona a favor das equipas. Noutros casos, contra.

A questão dos alinhamentos neozelandeses será um caso para estudar. Como se comportará o talonador, em próximos encontros? E os saltadores? Que soluções para os alinhamentos no ataque? E na defesa: contestar a touche ou preparar logo o jogo no chão?