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quinta-feira, agosto 03, 2006

A propósito da Taça Ibérica

A propósito da Taça Ibérica de Juniores, que o Belém irá disputar (previsivelmente) em Setembro contra a equipa do VRAC (Valladolid), lembrei-me de visitar o website da FPR, para procurar alguma informação acerca da prova.

Na secção «Documentos» existe um regulamento da Taça Ibérica, aplicável tanto aos séniores como aos juniores. O dito regulamento está publicado na página da FPR... mas em castelhano. E não é que nós, portugueses, não consigamos perceber a língua dos nosso vizinhos, mas caramba... traduzir um documento com 3 páginas não deemora muito tempo nem custa muito dinheiro. Talvez eu próprio o faça, enviando posteriormente para a FPR, e para posterior substituição do documento hoje disponível no site, em «estrangeiro».

É sabido que a Taça Ibérica já conheceu outro figurino. No mesmo site da FPR podemos consultar o arquivo de resultados entre clubes das duas nações. Entre 1965 e 1971, a Taça Ibérica era disputada num mini campeonato de 4 equipas (2 portuguesas e 2 espanholas), apurando-se o campeão ibérico com base nos resultados obtidos.

Depois de 1983, a Taça passou a ser disputada num jogo único, tal como prevê o actual regulamento.

O resumo dos resultados das finais, dee 1965 a 2002, está disponível no site da FPR e é interessante analisá-los. Na década de 90 o rugby luso começou a ganhar terreno ao espanhol, e o balanço entre vitórias de um lado e outro equilibrou-se.

Mas o verdadeiro propósito deste artigo é questionar o actual figurino da Taça Ibérica na categoria senior.

A Taça Ibérica é a única competição internacional e oficial de clubes em que os emblemas dos dois países se encontram envolvidos (creio não estar errado quanto a isto). Nenhuma equipa espanhola nem lusa participa nas actuais Taças Europeias da ERC, dominadas por clubes das VI Nações e com a participação – na Challenge Cup – do Steaua de Bucareste (Roménia).

Existe é certo (e ao mais alto nível) a equipa do Olympique Biarritz Pays Basque, que até disputou jogos em San Sebastian, no País Basco «espanhol». Mas o Biarritz é, para todos os efeitos, uma equipa francesa, que participa no TOP14 Francês.

Os clubes portugueses estão assim isolados, tal como os espanhóis, de contactos oficiais e de provas internacionais que possam motivar os emblemas, atadeptos, atletas e técnicos. A excepção é precisamente a Taça Ibérica.

Ora, uma Taça Ibérica disputada em num encontro único é interessante e prestigiante para o vencedor, mas não é uma prova. É um jogo.

Não seria bem mais interessante estudar, em conjunto com a FER, a possibilidade de regressar ao modelo anterior, ou em alternativa, gerar um novo modelo competitivo, com a Tala Ibérica a ser disputada em jornadas espaçadas ao longo do tempo, entre as 2 ou 3 melhores equipas de cada um dos países, tomando como critério de apuramento as classificações nacionais do ano anterior?

Bem sei que esta ideia não é nova e que tem o seu «quê» de romantismo. Muitos perguntarão: e dinheiro para isso? E tempo? Os nossos jogadores estão absorvidos em provas nacionais, selecção de XV, selecção de «Sevens» e... já agora, trabalho e vida pessoal. É óbvio que não podemos imaginar uma Taça Ibérica como um mini Super14 nem sequer como uma Heineken Cup Ibérica. Nessas provas os jogadores são profissionais (alguns são mesmo super profissionais, com super salários), e a realidade do Rugby nos países onde se disputam as referidas provas é muito diferente, para melhor.

Mas, começam pelo início, com:

- Conversa e negociação entre Federações;
- Avaliação do impacto de um novo modelo para os clubes e para o Rugby de ambas as nações;
- Avaliação dos custos financeiros de diferentes alternativas;
- Procura de patrocinador e de financiamento adequado;
- Envolvimento dos clubes na discussão;
- Envolvimento das entidades oficiais e procura de apoios institucionais (e não só) junto de municípios, juntas de turismo, governos civis... e por aí fora.

... creio ser possível encontrar uma fórmula mais digna para uma Taça que se disputa em poucas modalidades (e isso é uma vantagem para o Rugby), com proveitos para o Rugby e para os clubes.

É certo que com as dificuldades com que os próprios clubes se debatem, serão eles próprios e não querem «meter-se» em despesas que não lhes rendam quaisquer tipo de proveitos. É óbvio que arranjar mais problemas ao Rugby luso é coisa que não me passa pela cabeça, e que este texto é um «pensar em voz alta» que apenas tem por objectivo lançar a discussão.

Tenho consciência de que é mais fácil escrever sobre isto do que concretizar um projecto tão ambicioso. Mas temos de olhar para a frente, e sonhar. Portugal é uma equipa do Top 20 Mundial (apesar de, devido a maus resultados recentes, estar no n.º21 do Ranking da IRB). A Espanha é actual 25ª, e disputará o Torneio Europeu das Nações já a partir da próxima edição.

O esforço realizado na vertente de selecções tem sido enorme, recompensado com resultados, reconhecimento da IRB e fundos. O meu aplauso para a FPR, não obstante algumas críticas que me tem merecido o trabalho da Federação em alguns aspectos associados aos «Lobos».

É tempo de pensar nas competições de clubes.