O profissionalismo e o Rugby luso
Tudo parece clarificado. Diogo Mateus terá chegado a acordo com a equipa irlandesa da procínvia de Munster - actuais campeões europeus -, deixando para trás o Belenenses e Portugal, numa aventura irlandesa que merece e para a qual lhe desejamos a melhor sorte do mundo!
O Diogo é um jogador com enorme potencial, e pode progredir muito mais. Precisa de mais treino, de mais experiência, de mais jogo a alta velocidade, de adversários mas difíceis e de campos cheios. Precisa de respirar Rugby e encontrar, finalmente, um país e uma cidade - Limerick - onde possa evoluir como jogador e como homem, de uma forma inimaginável em Portugal.
Para o comum dos irlandeses - em especial para os adeptos da equipa de Thomond Park - o primeiro centro português é um perfeito desconhecido. Talvez alguns o conheçam do circuito de sevens da IRB... ou se calhar nem isso. É que os irlandeses não ligam nenhuma aos sevens.
Assim, quem se ligar aos fóruns da IRB ou da FIRA (nos respectivos websites) encontrará questões sobre o Diogo: quem é ele? alguém sabe como joga? como são os jogadores portugueses? porque é que não há mais profissionais em Portugal?
Alguns portugueses vão tentando responder, dizendo o que sabem sobre o Diogo e sobre os (poucos) jogadores lusos a actuar fora de portas. Mas o mais importante (ou preocupante) não é o facto de sermos mais ou menos desconhecidos no panorama internacional. É não nos questionarmos acerca do porquê de, provado que está o talento dos portugueses para o Rugby, não termos mais jogadores a alinhar em campeonatos e ligas profissionais.
Acredito que no fundamental esta questão se encontra ligada a três ou quatro aspectos fundamentais:
a) O perfil socio-económico do jogador de Rugby português, o qual se encontra num patamar elevado, e que levará sempre o jogador internacional luso a pensar nos prós e nos contras de uma possível profissionalização em ligas estrangeiras;
b) O facto de não existirem assim tantos jogadores portugueses com nível suficiente para ingressar em equipas e/ou ligas verdadeiramente motivadoras e interessantes;
c) O facto da maioria dos jogadores lusos levarem o Rugby «na desportiva», ou seja, com grande descontração e pouca disciplina. Fumam, bebem e não projectam o seu percurso desportivo para além da realidade do clube ou, na melhor das hipóteses, da selecção;
d) A existência de jogadores que, de forma consciente e perfeitamente legítima, não querem apostar no Rugby em detrimento da sua vida familiar, profissional e académica.
Cada caso é um caso... e cada jogador terá as suas condições objectivas e subjectivas para poder ou não alinhar no Top14 francês, na Pro2, na Celtic League ou mesmo na Heineken Cup.
O Diogo Mateus optou - ao que tudo indica - por dedicar mais uns anos ao Rugby de alto nível. Creio que é o desfecho natural de tantos a dedicar-se a 110% à modalidade. O centro belenense joga pelo clube, pela selecção de «sevens» e pela equipa de XV. Parece nunca dizer que não a nada, mostra uma capacidade de sofrimento invulgar e não tem férias... há anos!
As razões pelas quais não existem muitos mais «Diogos»... terão de ser analisadas pelas instâncias competentes, ou seja, pela FPR e pelo seu corpo técnico. É que as competições nacionais de clubes - secundarizadas, desvalorizadas e de baixo nível competitivo - não serão a curto/médio prazo o «viveiro» gerador dos talentos (e mais do que isso, dos jogadores feitos!) necessários para que Portugal se consolide no Top-20 Mundial, caminhando posteriormente para vôos mais altos.
Eu aponto desde já uma conclusão evidente, mas à qual ninguém parece prestar atenção: é necessário abrir o Rugby a todos os miúdos, de todas as classes sociais. É preciso que o número de praticantes se multiplique, aumentando assim as probabilidades de se encontrarem grandes talentos e jogadores com um projecto de vida ligado ao desporto profissional.
10 Comments:
Alguem sabe com esta transferencia qual e o clube ao qual ele vai ficar vinculado?
MM
Pois... boa pergunta.
Quando falei com o Diogo, no domingo, ele disse-me que ficaria directamente vinculado à Academia do Munster e não a nenhum clube. Ficaria assim disponível para alinhar pela selecção provincial na Celtic League e, se possível, na HC. Agora, se assim é de facto, não sei. Presumo que sim.
Em todo o caso esta noite vou ao treino da selecção, no Estádio Nacional, e terei oportunidade para clarificar a situação.
Novos desenvolvimentos entre a noite de hoje e a manhã de 6ª feira.
Nota: acabo de falar com um ex-jogador do «Clube de Rugby do Barreiro», existente naquela cidade da margem sul nos anos 70/80. Alguém tem memória do CRB?
Fico entao a aguardar confirmacao, pois se ele ficar ligado a Academia e nao a nehum clube seria talvez caso unico (?) ...e como e que jogaria entre Celtic League e ERC?
MM
Pois. É um facto.
O Diogo será uma excepção na Academia, até porque já não tem idade para lá andar...
Se será excepção também na questão de não ter clube no campeonato provincial... não sei.
Espero conseguir clarificar tudo logo à noite.
RV
No forum da página de adeptos do Munster fala-se no Cork... será?
O Barreiro ainda há 2 ou 3 anos jogava na II divisão.
O clube existe há imensos anos, mas acho q houve 1 altura em que eles eram a secção de rugby da CUF / Quimigal.
A selecção nacional chegou a fazer jogos oficiais no Barreiro.
Espero q voltem às competições o mais breve possível... de preferência sem jogarem naquele campo em q às vezes a bola ia parar à linha do comboio!
Há dois clubes diferentes:
- O «Fabril»
- O Rugby Clube do Barreiro, ou Clube de Rugby do Barreiro, o qual efectivamente estava ligado à CUF.
O Fabril ainda joga, acho eu.
O outro é que parece ter terminado, ainda nos anos 80.
Em todo o caso irei investigar...
Rui uma fica aqui uma pequena ajuda
"O rugby apareceu pela 1ª vez no Barreiro com o Grupo Desportivo da CUF, no dia 3 de Setembro de 1972, sendo o 1º jogo na 3ª divisão nacional com o Sacavenense, com o resultado 0-6. Muito por um enorme impulso dado pelo Eng. Bento dos Santos, na altura seleccionador nacional, e que como quase todos, trabalhava na antiga CUF e pelo Eng. Fernando Lince, figura lendária do Rugby Nacional.
A equipa era formada por: João Resende, Valter, Brasinha, Francisco Matoso, Agostinho, Fernando Lince, Júlio, Rui Porém, Bento dos Santos, João Dotti, Batista, Luís Aranha, Beato, Valter Contreiras e Rogério.
Estes heróis, foram realmente os pioneiros de uma modalidade que ao longo dos anos granjeou muitos praticantes e adeptos no Barreiro.
Mais tarde, é constituído o R. C. Barreiro, filho natural do G. D. da CUF, e que chegou, como ponto mais alto da sua História a militar na 1ª divisão nacional. Por 3 vezes disputaram-se no Barreiro, jogos da Selecção Nacional, contra Marrocos, Rússia e Roménia."Tinham um bom campo só para a modalidade ainda fui ver uns bons jogos
Agora o porque da sua desistencia ?....nao sei .
Michel
Obrigado pela preciosa informação, Michel. Espero escrever qualquer coisa sobre o assunto um dia destes...
Queria enviar a foto dessa 1ª equipa , onde figuram os nomes referidos, de Rugby do Grupo Despotivo da Cuf , que após o 25 de abril deu origem ao Rugby Clube do Barreiro, cuja sede funcionava no Cabeleireiro Orlando. Como o posso fazer?
Francisco M.
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