Problemas de memória...
Ontem realizou-se, no Estádio do Restelo (Pavilhão Acácio Rosa), uma Assembleia Geral Extraordinária do clube da Cruz de Cristo, acalorada e durante a qual surgiram os já habituais ataques às modalidades extra-futebol. É óbvio que cada um pode dizer aquilo que entender, desde que esteja na posse das faculdades intelectuais necessárias e se encontre em situação regular face ao clube, na qualidade de associado. O que na minha opinião não pode acontecer é faltar-se à verdade em questões histórias e de princípio, acerca do clube.
Dizer-se que o Belenenses é um clube de futebol «como demonstra o seu nome» (Clube de Futebol «Os Belenenses») obriga a que se faça uma leitura literal não apenas da palavra do meio, mas de todo o nome do emblema. Se é de futebol por causa do nome, é também só dos Belenenses (leia-se, os nascidos ou residentes em Belém) e de mais ninguém. É esse o clube que queremos, nós, «os Belenenses» espalhados por todo o mundo? Creio que não...
Os maus resultados do futebol profissional são, para muitos, a consequência do tão falado ecletismo, e o facto do Presidente do Clube, Eng.º Cabral Ferreira ter referido que «nascemos como um clube eclético basta ler os estatutos! Temos de discutir como ser ecléticos e não o facto de o ser» escandalizou muita gente... sem razão, digo eu.
O ecletismo - se bem gerido, com resultados e à Belenenses - engrandece o nosso querido emblema. Sobre a sua origem histórica, convido todos a ler este pequeno texto escrito há uns anos por Homero Serpa, grande jornalista do jornal «A Bola» e sócio de mérito do Belenenses:
«Um bom amigo descobriu nos seus papéis antigos um velhíssimo exemplar os Estatutos do «Club de Foot-Ball 'Os Belenenses'». Deu-me o livrinho de folhas amareladas com treze simples capítulos. Está muito bem estimada esta peça de museu belenense, que devia existir e não existe, assim como a história do popular clube, que foi de gente humilde e hoje será coito de timocracias. Acácio Rosa, nos seus livros, contribui com largos e importantes subsídios para alguém escrever a História do Belenenses, que seria a luta de um pequeno clube de bairro pela sua expansão, mas o importante não é historiar a obra colectiva, o importante é subir os degraus da promoção social como se isso desse respeitabilidade ao indivíduo. Lê-se no frontispício, num rectângulo destacácel: 'Foot-ball', natação, ciclismo, atletismo, hand-ball, basket-ball, rugby, hockey, pingpong e tiro. A memória dos homens pode ser curta, mas a memória dos livros é eterna».
Legenda: A primeira equipa de Rugby azul, nas Salésias, em 1928. (Créditos: Jornal «A Bola»).
O ecletismo belenense não é uma criação das actuais direcções. Não resulta da decisão de pessoas irresponsáveis. Não tem responsabilidades directas em maus resultados da modalidade n.º1 do clube, o futebol.
Ele nasceu com o Belenenses, dos belenenses e para os belenenses. Ele permitiu a miúdos e graúdos vestir a camisola do clube em modalidades diversas, encher a sala de troféus, projectar o nome do «Belém» nacional e internacionalmente.
Querer diminuir o enorme e indiscutível peso do futebol no seio - e na origem do clube - é um crime «lesa-pátria» que importa impedir. Mas desvalorizar todas as outras modalidades, o seu historial, os seus dirigentes, técnico e atletas passados e presentes... é no mínimo um grave problema de memória!
2 Comments:
So uma nota, a questao do nome e bastante mesquinha, e ate nem tem sentido, desde o inicio que Rugby e referido como "Rugby Footbal" e muitos clubes de rugby (e Federacoes) por esse mundo fora teem so Futebol no nome, exactamente com "Os Belenenses". Ainda hoje e extremamente usado e correcto referir-se ao Rugby como futebol, e ate dizer-se por exemplo que determinado jogo teve muito bom futebol....
MM
Sim, é um facto.
Acontece que ao Belenenses foi dado o nome de «Clube de Futebol», sendo aqui o Futebol relativo ao clássico futebol de 11 e não ao Rugby Football.
Agora, usar o nome do clube como argumento para excluir as outras modalidades é... uma treta, uma desonestidade intelectual enorme e sobretudo uma injustiça.
Abraço
RV
Enviar um comentário
<< Home