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sexta-feira, novembro 03, 2006

Duas vidas, duas Irlandas... duas formas de ver o Rugby!

A leitura sempre foi um dos meus (únicos) vícios. Comecei a sentir uma enorme vontade de ler quando tinha 16/17 anos e, a partir daí, nunca mais deixei de comprar e «devorar» livros sobre todos os temas.

Os livros de Rugby fascinam-me particularmente. Biografias de grandes jogadores, histórias de equipas, selecções ou torneios, livros sobre treino físico, técnico ou mental.

Actualmente, e para além da edição de Novembro da Rugby World (que vou lendo aos bocadinhos) estou a ler dois volumes sobre as vivências de dois jogadores irlandeses, representantes de duas eras do Rugby, duas Irlandas distintas, duas formas de estar na vida. Os livros em questão são:

- «Willie John: Story of my life»
- «Brian O'Driscoll: A Year in the center»

O primeiro é a autobiografia de Willie John McBride, segunda linha nascido e criado na Irlanda no Norte (ou Ulster), capitão da sua equipa nacional (os jogadores do Ulster jogam, na Rugby Union, integrados na equipa do trevo) e dos Lions.

Trata-se de um livro que narra de forma directa, simples mas extremamente bonita as vivências de um rapaz simples que se iniciou no Rugby aos 17 anos, e que se tornou (por mérito próprio e a pulso) numa das figuras mais conhecidas da história do Rugby Mundial (para o bem e para o mal). Willie John é como é, e não o esconde. Aliás, nunca o escondeu, dentro e fora de campo.

Tendo vivido o Rugby nas décadas de 60/70, e atingido o auge da sua carreira nas campanhas dos Lions em 1971 e 1974 (Nova Zelândia e África do Sul, respectivamente), Willie John escreve sobre um jogo que parece hoje cair em desuso, marcado por extrema ferocidade dentro de campo mas completa lealdade entre jogadores.

Empregado bancário de profissão, Willie John não viveu do Rugby, mas para o Rugby. Nasceu e viveu durante a fase do amadorismo assumido e sobretudo enaltecido. O Rugby era então, e mais do que hoje, uma verdadeira escola de vida, em especial nos países onde os praticantes eram (e são) oriundos de todas as classes sociais.

Já o livro de O'Driscoll (que é para mim o melhor centro do mundo, com uma elegância no jogo incomparável ao estilo «trapalhão» mas empenhado de Willie John) narra as incidências de um ano na vida daquele que veio a ser uma das personagens centrais da «Tour» dos Lions à Nova Zelândia, em 2005.

O'Driscoll foi nomeado capitão, mas alinhou apenas 1 minuto nos 3 jogos «a doer» contra os All-Blacks. Uma placagem ilegal e violentíssima de Tana Umaga e Mealamu afastaram-no das «Series», que se viriam a revelar duríssimas para os Lions. A derrota dos jogadores das «home-nations» foi total, perdendo os 3 jogos realizados (ainda que alguns casos, e na minha opinião, por questões de arbitragem), e O'Driscoll ficou na história como o capitão ausente de um dos menos bem sucedidos grupos de jogadores da história dos British & Irish Lions.

O seu livro refere-se a estes e outros factos, e conta a história de um rapaz que, contrariamente a Willie John, nasceu num meio que lhe proporcionou, desde cedo, todo o conforto possível. Talvez por isso o livro de O'Driscoll seja, na minha opinião, o retrato da própria equipa dos Lions... discurso descontraído mas por vezes duro, contundente até... mas pouco determinado na hora de concretizar em campo as intenções e desejos do grupo.

2005/2006 foi para O'Driscoll uma época marcada por altos e baixos. Os baixos ficarão sem dúvida para a história, e os altos não sei...

Já no que se refere a Willie John, será recordado por todas as internacionalizações, por toda a entrega e triunfos conquistados no hemisfério sul, em terrenos Kiwi e Springbok. Na memória dos adeptos do Rugby fica aquela figura gigante, algo grotesca até na forma de correr e abordar os rucks... mas simultaneamente o sorriso franco, a coragem na hora de resolver em campo o que em campo se passava (recordo as trocas de galhardetes na África do Sul...) e o exemplo de uma vida extraordinária.

10 Comments:

At 10:43 da manhã, Blogger Rui Silva said...

Acrescento apenas que o O'Driscoll ainda é «um garoto» e pode fazer coisas muito bonitas na sua carreira como jogador profissional de Rugby. É, para que conste, o meu jogador favorito na actualidade.

Agora, que o profissionalismo retirou algo ao Rugby (em vez de acrescentar...) isso parece-me inequivoco.

O jogo tornou-se mais rápido, mais físico, mais disputado... Mas perdeu mística, perdeu amor à camisola. Haverá dinheiro que pague essas dimensões do jogo?

Em Portugal o jogo ainda é (quase) 100% amador. Que bom seria se os nossos rapazes - de todos os clubes - sentissem o empenho e a paixão pelo jogo patente nas palavras de Willie John McBride.

 
At 10:48 da manhã, Blogger Afonso Nogueira said...

Rui,

Para além de ler um dos teus maiores vícios é actualizar blogs! LOL

Desculpa lá mas esta semana tem sido de doidos e o blog tem ficado para 2º ou 3º plano, são prioridades! Entre entrega de trabalhos, treinos e reuniões de 2 escalões de rugby o tempo n estica!


Abraço,

 
At 11:01 da manhã, Blogger Rui Silva said...

Afonso, asseguro-te que uma das minhas especialidades é fazer esticar o tempo. Senão repara:

- trabalho 8 horas por dia.
- vou buscar a minha filhota ao infantário, brinco com ela, dou-lhe banho e de comer. Adormeço-a.
- partilho todas as tarefas da casa com a minha mulher.
- esta semana fui 2 vezes ao Estádio nacional e 1 ao Belenenses, por causa de assuntos relacionados com o Rugby....

... E ainda me sobra tempo para ler!... e actualizar o Blog.

Repara: no meio disto tudo, actualizar o Blog é uma das últimas prioridades... e mesmo assim é feito!

Das duas uma: ou sou o Superhomem, ou a vida (e o desporto de alta competição) ensinou-me a gerir, com alguma mestria (modéstia a parte) o meu tempo.

Abraço
RV

 
At 11:02 da manhã, Blogger Rui Silva said...

Aproveito para esclarecer que Superhomem nunca fui nem serei. LOL!

 
At 1:10 da tarde, Anonymous Anónimo said...

So mais umas curiosidades sobre estas duas Lendas (uma com ainda muito para dar mas ja uma Lenda) do Rugby Irlandes.
Willie John e ate aos dias de hoje o jogador com mais internacionalizacoes pelos Lions (17). Teve 63 internacionalizacoes pela Irlanda e so uma vez marcou um ensaio....no seu ultimo jogo internacional. Foi durante os seus anos de jogador considerado como o unico Europeu que tinha poderio fisico e atitude a altura dos embates com as equipas do hemisferio Sul, o que o fazia extremamente respeitado e ate temido.
Quanto a O'Driscoll...continua a sua saga. Tornou-se internacional aos 20 anos e aos 24 estabeleceu-se como o actual Capitao da Seleccao Irlandesa. Entre muitos feitos um dos que se fala sempre foi o hat-trick em Paris (um dos poucos, se nao mesmo o unico que consegui fazer tres ensaios a Franca em Paris)....tinha 20 anos. Para os mais curiosos os videos desses 3 ensaios podem ser vistos em:
1). http://www.youtube.com/watch?v=rkv6iijnlYE&mode=related&search=
2). http://www.youtube.com/watch?v=pjCyw3g1I-0&mode=related&search=
3). http://www.youtube.com/watch?v=UQ5aqy4bHAQ&mode=related&search=

Muito mais se segui, mas este foi sem duvida o seu cartao de visita.
MM

 
At 1:23 da tarde, Blogger Rui Silva said...

Sobre o Willie John, e para que se perceba a sua atitude nada «enrascada» face ao poderio físico dos homens do sul, vejam este vídeo do´célebre Código de Touche «99», em 1974:

http://www.youtube.com/watch?v=CnPVfbG3rVM

 
At 1:26 da tarde, Blogger Rui Silva said...

Aliás, este vídeo - do qual muitos dos protagonistas não se orgulham, como o JPR Williams - envolve vários GRANDES jogadores da década de 70, ao serviço da mítica equipa dos Lions que «limpou» as «Series» de 71 e 74.

 
At 1:46 da tarde, Anonymous Anónimo said...

O famoso codigo 99, ou "Call 99" e realmente uma lembranca de uma epoca que ja nao existe. Na altura so eram permitidas substituicoes se o medico confirmase que o jogador nao estava fisicamente apto. O jogo era bastante feroz, nao havia ajuda do video, e era comum equipes retaliarem em defesa de colegas que sofreram jogo faltoso....dai resultou o famoso "call 99" em jeito de vinganca por Tours anteriores....isto seria impensavel hoje em dia...so por curiosidade para quem nao souber o nome do codigo foi escolhido pois 999 era o numero que se tinha que marcar para chamar a ambulancia no UK e Irlanda...dai ja se pode concluir muito sobre o tipo de accao que se seguia ao Codigo 99 nos alinhamentos...
MM

 
At 2:20 da tarde, Blogger Rui Silva said...

Exactamente... o código era 999, mas ao 99 desataram todos à tareia... Não houve tempo para concluir o código LOL.

 
At 1:40 da manhã, Blogger Ju Castilho said...

E onde posso encontrar esses livros para comprar?
Obrigada!

 

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