O Rugby e a violência (parte 2)
No primeiro artigo desta série, dedicada à violência no Rugby, decidimos abordar o problema do excesso de dureza (por vezes ilegal) no Rugby juvenil, considerando-o por vezes mais violento do que o Rugby senior.
Neste segundo artigo, abordaremos uma dimensão que muitos não considerarão do domínio da violência, mas que pelo menos eu enquadro no contexto do anti-desportivismo mais negativo: a pressão exercida sobre os jogadores em campo por parte de terceiros, presentes nas bancadas.
No Rugby português não existem claques organizadas, fenómeno mais comum em França (no domínio da Union) e em Inglaterra (no domínio da League), nem as habituais ofensas previamente definidas e os cânticos previamente ensaiados de ofensa ao clube e aos jogadores adversários (fenómeno muito comum no futebol). A reacção do público ao jogo vai sendo construída com base nas incidências do mesmo.
Se o resultado é muito desnivelado, as partes (ou seja, os adeptos das equipas) tendem a formar consensos em torno da justiça da vitória de uma equipa sobre a outra, ou por e simplesmente perdem interesse na dimensão competitiva do jogo. Todavia, em encontros mais decisivos e «resolvidos» ao ponto, vimos assistindo ao que alguém já chamou uma «futebolização do Rugby», com os presentes na bancada a reagirem de forma colérica a todo e qualquer comportamento do adversário, toda e qualquer decisão do árbitro.
Mais: é cada vez mais comum assistirem-se a cenas lamentáveis, de violência física exercida sobre árbitros (e não só...), levemente penalizadas pelas instâncias competentes.
A cultura que os miúdos do Rugby (ou seja aqueles que agora se iniciam) estão a apreender é pouco coerente com a clássica cultura da modalidade, baseada no equilíbrio entre a vontade de vencer e o respeito pelo adversário.
Penalidades adversárias são severamente assobiadas, ao contrário do que se passa em países onde o Rugby tem uma dimensão bem maior (como na Irlanda), onde o momento de chutar aos postes é precedido de profundíssimo silêncio no Estádio. Entendem os irlandeses, neste caso, que ganhar um jogo devido a uma penalidade falhada (na qual o público interfere, assobiando) é na verdade perdê-lo!
Quero com isto dizer que o comportamento do público comporta por vezes elementos violentos que nem sequer estão presentes em campo. Um exemplo: num jogo do ano passado, disputado entre dois dos maiores emblemas do Rugby nacional, o jogo disputava-se de forma correcta em campo, e das bancadas choviam provocações a determinado jogador.
Outro exemplo, do Rugby juvenil: na final do campeonato nacional de juvenis 2005/2006 (vencida pelo CDUP), jovens jogadores de uma terceira equipa presente, deslocaram-se à rede lateral do campo 1 do Estádio Nacional para insultar o chutador do Belenenses que se preparava para bater aos postes, de ângulo complicado. Interroguei-me acerca do interesse daqueles rapazes - de um emblema não envolvido na final! - em insultar um adversário... e interroguei-os a eles. A resposta foi tal que nem me atrevo a publicar as palavras utilizadas.
Mais recentemente, e segundo li em comentários aqui no Blog, alguns miúdos dos escalões de formação de Agronomia assobiaram a equipa do Direito, quando esta recebia o troféu conquitados na final da Supertaça.
É aos clubes que compete - tal como aos encarregados de educação!!! - educar os jovens jogadores e incutir-lhes os tradicionais valores do jogo, que não podem ser atropelados por outros menos nobres, nesta era de galopante profissionalização do Rugby. O Rugby não pode ir atrás daquilo que de mau existe nas outras modalidades. Muito pelo contrário!
Violência efectiva não é só dar ou receber um murro... Violência é toda e qualquer forma de agressão (física, moral, psicológica, ec.) sobre outrém. E por isso defendo que em campo ela deve ser punida, fora de campo também (que tal utilizar mecanismos de interdição de campos onde se prove a utilização de pressão constante sobre o adversário e os árbitros?).
Artigos relacionados:
O Rugby e a violência (parte 1)
7 Comments:
Quando publicam o 15 de 2005/2006??
Muito bom post Caro Rui Vasco. Ha muitas coisas que nao estao bem, e nem todas sao da culpa da FPR ou dos outros. Neste caso da violencia, e dos exemplos que deu, a culpa esta em todos nos, e em toda a gente envolvida no Rugby. No nosso caso Portugues pode ate ser uma questao cultural (nao sei, nao tenho factos, so uma possibilidade...)
Isto e uma questao de educacao, e o exemplo tem que vir de todo o lado. O Rugby deve ser uma Escola de virtudes, de companheirismo, sacrificio, dedicacao, respeito e desportivismo. Quando damos o nosso melhor e nao ganhamos, nao perdemos!! Apenas o melhor dos outros foi melhor do que o nosso, temos que admitir isso, felicitar o adversario e trabalhar para ser melhor da proxima vez. Reinforco o que o Rui Vasco disse, nao ha merito em ganhar so porque se desestabilizou o atleta adversario na altura do pontape. Nao ha merito em ganhar porque o adversario jogou sem um ou dois dos seus melhores atletas, porque propositadamente os lesionamos nos primeiros minutos de jogo. Ha merito em darmos o nosso melhor, ha merito em trabalhar para que o nosso melhor seja sempre melhor, ha merito em ser cortes, gentil e respeitador para com todos os que estao em campo e envolvidos nessa partida.
Como disse acredito que possa ser uma questao educacional e cultural, que nao muda por decreto ou de um dia para o outro, por isso cabe a todos nos dar sempre o exemplo, criticar, ou chamar a atencao quando se veem coisas menos bem, isto especialmente, e com mais realce para aqueles envolvidos com os escaloes jovens.
MM
Não consigo arranjar tempo para fazer as estatisticas do XV do Ano. Se quiseres fazê-las estás à vontade!
Abraço
entao e a provocação constante d pipas d direito, pelo menos nos jogos d agronomia, aos adeptos, não conta cm anti-desportivismo?
Se de facto ela existe, conta. Apelas dei alguns exemplos, mas certamente que existirão outros. Aliás, esta caixa de comentários serve precisamente para que os leitores possam contribuir para as discussões, referindo casos que conheçam, etc...
Agora, seria MUITO BOM e bem mais interessante se o fizessem de forma assinada.
Então e ontem dia 1 de novembro, numa jornada de Rugby de 8 onde se devia tentar ensinar mais alguma coisa de rugby aos jovens atletas. A final do torneio de Juniores acabou numa batalha "campal" até o pouco publico invadiu o campo para molhar a sopa em vez de serenar os animos. Mas esta jornada foi rodeada de acto violentos por parte de algumas equipas. E estes atletas serão o futuro do Rugby Português !!!!
Caro amigo
Eu não estive lá, mas o site da FPR diz que o Torneio foi um sucesso. Leia aqui:
http://www.fpr.pt/noticias/noticia.asp?id=5990&id2=4
Se quiser escrever alguma coisa sobre o assunto, envie-nos um resumo do que se passou para rui.vasco@sapo.pt.
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