:: Belenenses XV ::: Torneio das «N» Nações...

segunda-feira, julho 31, 2006

Torneio das «N» Nações...

Numa das cartas ao editor da edição de Agosto da prestigiada revista «RUGBY WORLD», já à vendas nas nossas bancas, um leitor questiona-se acerca do porquê de não se alargar novamente o velhinho Torneio das V Nações (agora, VI Nações, após a inclusão da Itália) às equipas da Roménia e da Geórgia. Diz o referido leitor que a ideia lhe ocorreu depois de ter assistido a um resumo do recente jogo entre a equipa georgiana e os Barbarians, durante uma das edições do magazine televisivo Total Rugby, da IRB.

Parece-me que a ideia subjacente à carta deste leitor é correcta, e vai até de encontro ao editorial da mesma revista, que questiona o porquê da recusa de equipas como a Inglaterra em realizar jogos contra equipas de segundo plano, como Tonga, Samoa ou Fiji.

É óbvio que o leitor responsável pela proposta vai muito mais longe: alargar o VI Nations para VIII Nations tem consequências desportivas, financeiras e comerciais importantes, que tornam a ideia... impossível! Os moldes em que a prova é disputada, com jornadas sucessivas que «prendem» os jogadores às selecções durante mais de um mês (em 2007, o VI Nations começa a 3 de Fevereiro e termina a 17 de Março), o nível de competitividade requerido para os jogos, os prejuízos causados pelo torneio aos clubes, a(s) estrutura(s) subjacentes à prova... Tudo isto torna impraticável um hipotético VIII Nations.

Do ponto de vista comercial, e apenas para que se tenha consciência do prejuízo que represneta para uma grande federação receber um adversário menor, dou apenas um exemplo: em Novembro de 2005, a IRFU (Federação Irelandesa) obrigou os adeptos a adquirir ingresso para o particular com a Roménia (26/11/2005, 43-12) em simultâneo com o bilhete para os jogos contra os Wallabies e os All-Blacks, disputados no mesmo mês, também em Dublin. Sem esse pré-requisito, ninguém teria acesso aos jogos «grandes» do Outono. E o jogo contra a Roménia não teria tido a «meia-casa» registada...


Créditos: Site oficial da Federação Romena

Sejamos claros: o público quer ver jogos competitivos. E até a selecção inglesa enfrentou estádios meio despidos de gente nesta sua Tour à terra dos cangurus. Os «aussies» perceberam que a sua equipa não teria grande dificuldade em dominar os actuais campeões do mundo, e com o Trinations à porta preferiram poupar tempo e dinheiro para os testes «a doer» de 2006.

Depois hás várias outras razões de peso. Dois exemplos simbólicos:

1. Um mês de VI Nações representa várias jornadas de competições nacionais e internacionais perdidas por jogadores, nos seus clubes. Imaginem o Toulouse a dispensar jogadores para três ou quatro selecções diferentes durante dois meses, num hipotético VIII Nações...

2. A tradição conta muita para as chamadas «home nations». A entrada da Itália gerou resistências, e o interesse argentino em ingressar na prova do hemisfério norte - já que no Trinations mais ninguém entra! - já está, por si só, a gerar polémica q.b.

Roménia e Geórgia estarão muito longe de ter o privilégio de ingressar no restrito clube das nações Rugby europeias.

O que também me deu que pensar foi o facto do tal leitor não se ter referido a Portugal. Todavia, no mesmo número, um outro leitor referia o nosso país e criticava o formato de apuramento de equipas para o Campeonato do Mundo.

Em suma, o hemisfério norte (com a excepção da França, que para além de ser a 2ª equipa actual no mundo foi campeã sub-21...) começa a perceber que é preciso aumentar a competitividade deste lado do mundo. As federações poderosas estão fechadas à mudança, mas os adeptos do Rugby gostariam de ver provas envolvendo mais países, eventualmente com formatos mais próximos dos campeonatos da Europa de outras modalidades.

É certo que um possível Europeu de Rugby, com digamos 12 equipas, teria jogos muito dequilibrados, ao jeito das provas de hoquei-em-patins. Mas no fundo essa é uma das formas de fazer progredir a modalidade e de lhe dar uma dimensão europeia, fora do circuito fechado das ilhas, França e Itália.

Esta conversa é toda muito bonita... Mas o assunto é complicado, envolvendo mudanças estruturais nas entidades que tutelam o Rugby ao nível europeu. Talvez abordemos o assunto num outro dia... Para já fica a boa notícia: mesmo aqueles que têm Rugby de alto nível «à porta de casa», começam a olhar para as nações da 2ª divisão europeia e a perguntar, «porque não puxar por elas e dar-lhes condições para evoluir?».

Por outro lado, o simples facto da nossa equipa nacional andar a competir, de forma regular, com equipas de nível superior (Roménia, no Torneio Europeu das Nações, Argentina A e Itália A, no IRB Nations CUP, ou Fiji, num particular de grande espectacularidade) é de salientar e valorizar.

De pouco serviria, neste momento, um Torneio das VIII ou das IX Nações. Um passo de cada vez. Em especial no capítulo da formação. E Portugal, tal como a Roménia ou a Geórgia (este dois últimos países disputaram este verão provas de nível mundial da IRB, em escalões de formação), estarão em alguns anos ao nível da Itália, exigindo igualdade de tratamento.

2 Comments:

At 11:18 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Porque não continuar com as perspectivas para 2006/2007? Ficaram-se pela 2ª linha...!!!

 
At 1:59 da tarde, Blogger Rui Silva said...

As perspectivas para 2006/2007 estão em preparação... A 3ª linha vai ser publicada hoje ou amanhã.

Rui Vasco

 

Enviar um comentário

<< Home