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terça-feira, setembro 19, 2006

O Rugby e os Jogos Olímpicos (parte II)

Na sequência do artigo anteriormente publicado sobre a questão do Rugby e dos Jogos Olímpicos, é agora tempo de realizar nova exposição - complementar à primeira - que procura fundamentar as razões pelas quais creio ser imperioso incluir a «nossa» modalidade no programa olímpico.

O primeiro argumento é «legal», e diz respeito ao cumprimento por parte do Rugby dos requisitos estabelecidos pela chamada «Carta Olímpica» para a inclusão de uma modalidade no programa dos jogos:

a) O Rugby (masculino) é praticado em mais de 75 países e em todos os continentes, e no caso das mulheres, é também ele praticado em pelo menos quarenta países e três continentes;

b) O Rugby respeita as regras internacionais de anti-dopagem, e não se conhecem casos graves de utilização de substâncias proibídas, tal como acontece com enorme frequência noutras modalidades/disciplinas do actual programa olímpicos, como o ciclismo;

c) O terceiro requisito diz que uma nova modalidade terá de ser incluída no programa olímpico pelo menos sete anos antes da realização do evento em causa, o que coloca em risco (para não dizer, coloca de parte) a hipótese de inclusão do Rugby nas olímpiadas de 2012. Ainda assim, a modalidade (na sua vertente de XV ou de Sevens) poderá participar com o estatuto de «demonstração», tal como já aconteceu com outras (ex. Hoquei-em-patins) no passado. Mais: a própria carta olímpica refere que, em determinados casos, o prazo de sete anos pode ser alterado, e uma modalidade pode ser incluída no programa sem respeitar a norma anteriormente referida.

A questão que se coloca então é a seguinte: terá o COI (Comité Olímpico Internacional) interesse na inclusão do Rugby nos jogos por si organizados?

Eu defendo que sim. É que para além dos aspectos legais, o Rugby é a expressão mais pura do sentimento/mentalidade olímpica no desporto. Ele é, desde logo, muito mais amador (na maior parte dos países onde é praticado) do que a generalidade das outras modalidades incluídas no actual programa. É também uma modalidade onde o sentido de «fair-play» (ou jogo limpo) é assumida como uma regra de honra individual e coletiva por jogadores, técnicos e dirigentes.

Não terá sido aliás por mero acaso que, em 1900 (Paris), a modalidade iniciou o seu percurso olímpico, interrompido apenas 24 anos mais tarde, por razões que já referimos no anterior artigo, e que pessoalmente me parecem desprovidas de sentido. Mais: o introdutor do Rugby como modalidade olímpica foi o próprio Barão Pierre de Coubertin, criador das olímpiadas modernas, amante do jogo da bola oval e árbitro da final do primeiro campeonato francês de Rugby.


Legenda: Barão Pierre de Coubertin.

Hoje, a discussão em torno do regresso do Rugby às Olímpiadas tem provocado acesos debates, com argumentos a favor e contra. Pessoalmente, creio que o Rugby pode e deve regressar aos «Jogos» e já expliquei porquê. Mais: defendo que, não obstante todo o meu fascínio pelo clássico Rugby de XV, a modalidade teria muito mais a ganhar se fosse a variante de «Sevens» a ser introduzida numa futura olímpiada.

Os «Sevens» são mais fáceis de compreender por quem não tem contacto frequente com a modalidade, os jogos são velozes e entusiasmantes, as regras são menos complexas e a duração das partidas mais curta. A realização de uma competição olímpica de «Sevens» poderia ter, tal como acontece nas etapas do circuito da IRB, uma curta duração (2 a 3 dias), com a realização consecutiva de várias jogos, num terreno de jogo exclusivamente (ou não!) dedicado ao Rugby.

No que se refere a Portugal, a adopção da variante de «sete» seria aliás vantajosa. Somos actuais campeões europeus da FIRA-AER (aliás, penta-campeões europeus!) e uma equipa cada vez mais cotada nas provas da IRB, durante as quais já competimos (quase) de igual para igual com as selecções profissionais e semi-profissionais da Argentina, Samoa, Gales ou Escócia.

Haverá vontade por parte da FPR e do COP (Comité Olímpico de Portugal) em fazer o esforço necessário para juntar as suas vozes a toda aqueles que, neste momento, defendem o regresso do Rugby aos JO?

É assunto para abordar (e esclarecer) em futuros artigos desta série, «O Rugby e os Jogos Olímpicos».

4 Comments:

At 12:13 da tarde, Blogger Rui Silva said...

Bom dia!

Não, a questão não é essa.

Os meus argumentos para ser a versão de «Sete» a ser incluída no Programa Olímpico vão de encontro a requisitos do próprio COI:

- Delegações curtas, pois existe um número limite de atletas/membros de delegações, que o COI pretende fazer respeitar. Uma equipa de Rugby de XV leva no mínimo... 25 a 30 jogadores (22 para jogar, mas reservas), dois técnicos, dois ou três dirigentes, massagista, médico, roupeiro... enfim... Uma delegação de «sevens» é mais comedida.

- Do ponto de vista logístico é mais fácil para o COI «arrumar» no seu programa dois ou três dias de uma competição de «sevens», do tipo das etapas do cirsuito IRB;

- Depois creio que os jogos de Sevens são, perante os milhões de espectadores que assistem religiosamente às transmissões televisivas dos JO, muito mais fáceis de compreender. Acabaria por ser uma mais eficiente propaganda do Rugby;

O argumento de que Portugal tiraria partido desta circunstância não é um verdadeiro argumento. Ou pelo menos não foi com essa intenção que o referi.

Apenas creio que seria uma consequência positiva da inclusão dos «Sevens» no programa olímpico. Mais nada.

Agora, num plano ideal, preferia «1000 vezes» que fosse o Rugby de XV a entrar nos JO.

Pergunto: estariam as grandes Uniões europeias e do Hemisfério Sul disponíveis para isso? Duvido...

Um abraço!

 
At 12:34 da tarde, Blogger Rui Silva said...

Acrescento apenas o seguinte:

Imaginemos um torneio olímpico de Rugby de XV, com 12 equipas (limite para o futebol feminino, por exemplo).

Imaginemos uma fase de grupos (3 grupos de 4 ou 4 grupos de 3 equipas).

Isso implicaria:

- Uma fase de grupos de 2 semanas;
- Uma fase final com pelo menos quartos de final, meia final, apuramento do 3º e 4º lugar e... final. Mais duas semana, digo eu.

Acrescento o seguinte: a utilização de um campo de dimensões oficiais durante todo este tempo implicaria ajustamentos ao programa do futebol, que como se sabe é sempre disputado em locais longe da «aldeia olímpica», sendo uma modalidade na prática física e «espiritualmente» segregada dos JO.

A vriante de «Sevens» permitiria a utilização do Relvado do Estádio Olímpico, onde se realizam as provas de atletismo, normalmente, antes do início das mesmas.

Enfim, as hipóteses são múltiplas. Mas repito: sou apaixonado pelo Rugby de XV e apenas acho alguma piada aos «Sevens». Aliás, os «Sevens» não me fascinam particularmente. A questão é logística e também de melhor percepção, por parte das gentes exteriores à modalidade, do jogo em si.

Mas o mais importa é ver o Rugby de volta aos jogos. Tudo o resto é «negociável» e possível.

 
At 5:03 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Boas a todos
Parabens por este espaço de debate que é importante para discutir os problemas do rugby em Portugal.

Penso que relativamente à questão em analise ja verificaram que é uma modalidade que NÂO SE PRATICA em Portugal!!!! Onde há jogos? Onde há treinos ? Onde há verdadeira competição nacional desta modalidade?
Em termos de JO obviamente que só os sevens podem caber. O quinze é uma modalidade que se extende no tempo e que é dificil enquandrar num cpmetição multidesportiva alargada. (tambem nao tem o peso do futebol)
Claro que é uma versão onde Portugal tem mais visibilidade e que beneficia um jogo menos fisico que é claramente o defice dos jogadores portugueses.

De qualquer maneira é de apostar nos JO como forma de divulgação da modalidade,

Agora há tanta coisa que se podia fazer para desenvolver intramuros a modalidade, que ao contrario do que dizem nao me parece que tenha assim tanto crescimento quanto isso
Cumprimentos
Rodrigo

 
At 5:24 da tarde, Blogger Rui Silva said...

Atenção: eu não defendo a inclusão do Rugby nos JO como estratégia interna (leia-se, portuguesa) para divulgar o Rugby. defendo-o como princípio.

As consequências indirectas dessa inclusão intramuros é que podem, eventualmente ser positivas.

Mas repito: esta série de artigos sobre os JO (que vai continuar) não tem a ver com uma visão de desenvolvimento da modalidade em Portugal. Nessa capítulo há muito a fazer, e não passa (em primeira instância) por isto...

 

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