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sexta-feira, setembro 22, 2006

Sobre a questão dos campos...

No momento em que o Belenenses se prepara para comemorar os 50 anos desde a inauguração do Estádio do Restelo, sinto-me compelido a dedicar tempo e espaço a um importante tema que de forma tão negativa influi no desenvolvimento do Rugby nacional: a espinhosa questão dos campos!

Sobre a ausência de um campo exclusivamente dedicado ao Rugby no Complexo Desportivo do Restelo não mais escreverei. Pelo contrário, aproveito este artigo apenas para remeter os nossos leitores para escritos mais antigos (clicar aqui), bem como para citar o grande belenense (e dirigente do Rugby) que foi Acácio Rosa, quando afirmou em livro dedicado à História azul, que os bravos rapazes do Rugby «tudo dão de si, e nada pedem em troca. Para quando um relvado no Restelo?».


Legenda: O relvado 2 do Complexo do Restelo é partilhado por todos os escalões competitivos e pré-competivos/formação do Rugby e do Futebol. O clube do Restelo já ultrapassou há muito o limite no que diz respeito à utilização intensa deste equipamento do Complexo belenense.

É claro que muito mais haveria a dizer sobre a situação de verdadeiro estrangulamento do Rugby azul, ao nível da utilização de espaços no complexo do Restelo, ainda para mais tendo em conta os dados divulgados no Relatório da ARS, onde se verifica que foi o Belenenses o clube que mais contribuiu para o aumento do número de jogadores nos escalões jovens (Bambis a Iniciados), em Portugal.

Mas os problemas enfrentados por outros clubes são tão ou mais graves que aqueles que enfrenta o Belenenses, e por isso importa dar destaque ao verdadeiro problema nacional que é a ausência de campos destinados ao Rugby (ou pelo menos, partilhados com outras modalidades) em diversas regiões de Portugal.

A decisão do C.R.Évora de abandonar a Taça de Portugal, e a Assembleia Geral do Clube que hoje se realiza na cidade alentejana (e que coloca em cima da mesa a possibilidade de extinção da modalidade ao nível competitivo), deverá funcionar como uma chamada de atenção - infelizmente tão drástica como dramática - para a necessidade de toda a comunidade do Rugby se unir em torno da exigência de mais e melhores espaços para o treino e competição. A propósito desta Assembleia, e não tendo conhecimento de pormenores acerca da mesma, creio que seria de todo o interesse nela encontrar-se representada a F.P.R. ao seu mais alto nível, se for essa a vontade do clube eborense.


Legenda: Equipa do C.R.E. de 2002/2003, alinhando no pelado do Santo António, em Évora (Créditos: Site oficial do C.R.Évora).

Tempos houve em que a F.P.R. se empenhou em pressionar o poder central (e local) para satisfazer a necessidade de mais e melhores campos. A direcção presidida por Raúl Martins alcançou notáveis êxitos, com vários clubes a «benficiarem do empenho federativo para a construção dos seus recintos». Outros campos surgiram mais tarde, mas nunca em número e qualidade suficiente para as necessidades do Rugby luso.

Grandes emblemas do Rugby nacional continuam a formar «carradas» de jogadores para as equipas nacionais sem terem sequer um campo próprio. Belenenses e Benfica são dois dos casos mais gritantes, mas não únicos. Alguns emblemas utilizam campos aparentemente seus (aos olhos de terceiros) mas na prática em situação altamente precária, deixando fortes reservas acerca do futuro dos mesmos.

Em simultâneo, o Estado investiu fortemente na construção de um conjunto de Estádio perfeitamente irracional, parte dos quais não tem utilização que justifique todo o dinheiro em si investido. O mais gritante de todos os casos é o do Estádio do Algarve. Mas não é o único. Que real interesse têm os Estádios de Leiria e Aveiro, o Municipal de Braga (que é muito bonito mas exclusivamente destinado à prática do futebol profissional) ou o Municipal de Barcelos (que está prestes a perder a única equipa profissional de futebol que o utiliza)?

Países menos poderosos que o nosso, ao nível do Rugby, contam com infraestruturas dedicadas à modalidade que não encontram paralelo em Portugal. A selecção nacional continua a jogar em Estádios emprestados (o que tem vantagens mas certamente mais desvantagens) e os nossos clubes confrontam-se com situações caricatas (ao nível do treino e da competição), como jovens praticantes (internacionais) a treinarem às escuras em relvados públicos.

O futuro «risonho e verdejante» que noutros tempos se perspectivava deu lugar a uma certa estagnação (e até retrocesso) actual. O Rugby não pode crescer se não tiver meios físicos (campos e dinheiro) para o efeito.

O Plano de Desenvolvimento Estratégico da FPR refere-se, relativamente a esta matéria, nos seguintes termos:

«A FPR pensa que há que recomeçar brevemente a investir em novos campos de rugby (relvados ou sintéticos), porque os recintos existentes já se encontram claramente saturados. Nesse sentido a FPR pretende apoiar os novos clubes junto das autarquias na obtenção de espaços para futuros campos de rugby, e apoiar os clubes existentes na expansão e melhoria das respectivas instalações.

Outro aspecto do desenvolvimento do jogo tem a ver com a melhoria dos equipamentos desportivos dos clubes (material de treino, maquinas de melée, salas de musculação, etc.), e que FPR pretende apoiar dentro das suas disponibilidades».

É tempo de passar à acção pois o tempo que vivemos é determinante para o futuro da modalidade e a opção a tomar passa só pode passar pela criação de recursos (humanos e materiais, incluindo campos!) que dêem sustentabilidade ao excelente trabalho de formação e competição realizado pelos clubes e pela equipa liderada por Tomaz Morais.

As perguntas ficam no ar, sem julgamentos a priori nem ironias:

a) O que pretende fazer a F.P.R. relativamente ao caso do C.R.E. bem como a futuras situações semelhantes?

b) Qual a «disponibilidade» actual da F.P.R. para apoiar os clubes na «melhoria dos equipamentos desportivos»?

c) Para quando um Estádio (próprio ou emprestado por período prolongado) para utilização por parte das selecções nacionais, para estágios e realização de jogos internacionais?

Nota:

Uma vez mais, peço desculpas pelo negativismo do texto (enfim, este até nem me parece tão negro quanto isso...), mas este espaço não nasceu para ser simpático nem para servir apenas de meio difusor de notícias previmente publicadas no site da FPR ou dos clubes. A questão dos campos diz respeito a todos, e deve ser por todos encarada de forma absolutamente prioritária.

2 Comments:

At 3:24 da tarde, Blogger Rui Silva said...

Entretanto, novo escândalo futebolistico em Felgueiras, essa cidade de sacos azuis (não têm nada a ver com o azul belenense). Falo disto apenas por uma razão: é que o escândalo diz respeito à transferência da posse do Estádio do clube de futebol local para o Município. O objectivo? Reduzir custos de manutenção. Ou seja, o clube usa o equipamento, a câmara paga a sua manutenção.

Estádio existem!
Relvados existem!
Equipamentos existem!

Mas o futebol é um eucalipto que seca TUDO à sua volta!

 
At 7:51 da tarde, Blogger Rui Silva said...

Estamos de acordo!

 

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