«Ponto da situação»
Em Outubro de 1980, no n.º1 da Revista RUGBY, a Direcção da FPR fazia um «ponto da situação» relativamente ao estado da modalidade em Portugal. Interessante texto, no qual se apontam questões que hoje, passados 26 anos, encontram significativa actualidade. É incrível como em 2006 se pode ler um texto de 1980 e encontrar nele um reflexo quase perfeito do estado actual de coisas do Rugby luso.
Leia-se por exemplo esta passagem:
«Esqueceu-se de que era preciso criar uma maior capacidade de resposta em termos de condições de treino – campos essencialmente – em termos de técnicos, árbitros, dirigentes desportivos, capazes de, num todo, corresponderem ao crescente número de solicitações dos praticantes. E hoje, é com certo amargor que se vê, que se constata que, em vez dos cerca de 7000 praticantes de rugby Federados, poderíamos ter o dobro, pois assistimos diariamente ao desaparecimento, desencorajados e desmotivados, de muitos jovens e, alguns, potenciais valorosos jogadores».
Impressionante a correspondência entre o passado mais ou menos longínquo (26 anos é… mais de um quarto de século) e a actualidade.
O Rugby vivia então mudanças e tomava decisões importantes. O regresso à FIRA era discutido, por exemplo… Mas já era, nessa mesma altura, uma modalidade fechada sobre si, como hoje. O facto de contar com mais praticantes que espectadores era para a FPR um facto salutar. Hoje a perspectiva parece ser a mesma.
A modalidade, que era segundo a FPR a 5ª «amadora» do ranking nacional, perdeu força, perdeu praticantes e perdeu várias oportunidades de ouro para crescer. O orgulhoso amadorismo dos anos 80 (e anteriores) já lá vai, e hoje deseja-se o profissionalismo, ou pelo menos um semi-profissionalismo. Será que o Rugby luso tem base de sustentação para concretizar essa intenção?
Segundo o Plano Estratégico da FPR, em 2004/2005 existiam em Portugal 2545 jogadores federados, número muito aquém dos tais 7000 de 1980 (mesmo tendo em conta eventuais diferenças no critério de apuramento do número de praticantes). Para onde foram? Desapareceram, diariamente, «desencorajados e desmotivados» pela má gestão dos recursos (poucos, é certo) colocados ao dispor da modalidade.
Sejamos claros: em Portugal há muita gente (uma imensa maioria) que nem sequer sabe o que o rugby é… Outros sabem que existe, mas não fazem ideia que as equipas nacionais têm progredido de forma impressionante, concretizando resultados inimagináveis há apenas alguns anos. Mérito e demérito para a FPR, em simultâneo.
Repito o que já escrevi antes: a desvalorização dos clubes e das competições nacionais está na génese do retrocesso do rugby luso, facto que nem os títulos internacionais de sevens ou de XV podem esconder. É preciso tirar a cabeça da areia (tipo avestruz) e olhar à volta: as bancadas estão vazias, os «Morangos com Açúcar» já lá vão, alguns miúdos que vieram aos clubes desapareceram, outros apareceram, mas o problema da falta de estratégia de crescimento da modalidade persiste!
O Plano (já referido) aponta metas, não medidas concretas, e entre 1980 e 2006 já passaram 26 anos, quase tantos quantos eu tenho de vida. Porque é que o panorama continua a «não ser brilhante» (nem perto disso)?
Esperar pelos benefícios que o texto de 1980 refere não irá alterar nada. Há que aplicar fora de campo a combatividade típica dos jogadores de Rugby, junto das instâncias que podem – com verbas, apoios, divulgação, programas e projectos concretos – dar ao Rugby outro ânimo. E já agora é preciso descer das nuvens, e perceber que não há no Rugby nenhum tipo de superioridade face às outras modalidades, perspectiva arrogante que ainda se lê no discurso de muitos ex-praticantes/actuais dirigentes da modalidade. Se querem progredir, se querem mais infra-estruturas e mais projecção para o Rugby é preciso abrir a modalidade a todos.
Ainda se está a tempo de alterar o essencial… Haverá vontade?
Nota: É um pouco cansativo, para quem lê e para quem escreve, passar a vida a apontar os pontos negativos do Rugby nacional. Mas é preciso fazê-lo, porque para quem manda tudo parece estar bem. O episódio relativo ao jogo que era suposto ter ocorrido mas não aconteceu (pelo menos que se saiba) é paradigmático do «estado a que isto chegou». Lamentavelmente, terei de continuar a escrever pela negativa relativamente a questões do foro organizacional. Pode ser que alguém leia…
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