:: Belenenses XV ::: «Carta de Amor» ao meu querido Clube

sábado, setembro 23, 2006

«Carta de Amor» ao meu querido Clube



87 anos de vida!

O Belenenses cumpre, precisamente hoje, 87 anos de vida. Não posso por isso deixar de apelar à compreensão dos nossos leitores, pois hoje o prato forte não será o Rugby, mas esta expressão particular de associativismo que é o Belenenses.

Devo confessar que o Belém é o amor da minha vida. É claro que antes dele vem a família (a qual está na origem deste «fervor» pelo meu clube), mas parto do princípio que esse facto seja percebido por todos sem mais explicações. Clarifiquemos ainda assim as coisas: depois daqueles que são a minha razão de existir, o Belenenses é o meu mais profundo e verdadeiro amor.

É por isso com enorme emoção que vivo este dia 23 de Setembro de 2006, data em que se celebram duas efemérides particularmente importantes da história do clube: o momento da sua fundação (ocorrida num banco de Jardim em Belém, no ano de 1919) e o dia da inauguração do mais belo Estádio português, o Estádio do Restelo (em 1956).

O Belenenses não é um clube como os outros. Tem uma simbólica e uma mística distinta, própria, especificamente bairrista, resistente aos efeitos do tempo e sobretudo de todos quantos, ao longo de 87 anos (por dentro e de fora) tentaram matar o sonho tornado realidade: o nascimento – e fortalecimento! – de um clubes dos rapazes da Praia de Belém. Como diria Homero Serpa, jornalísta da velha escola e sócio de mérito do Belenenses, «o Belenenses não se serve do bairrismo para atacar outros lisboetas ou os portugueses em geral. Pratica, portanto, o bairrismo honesto, o bairrismo que não cultiva inimizades, o bairrismo que não gera belicismos nem procura defender os interesses particulares deste ou daquele cidadão, vista ele a camisa de preço exorbitante, ponha a gravata mais cara, envergue o casaco dos bons alfaiates ou mesmo a fulda do papa. Isso é para os labruscos sem consciência de o serem. O bairrismo é o colectivismo, é a coesão de uma comunidade, não será nunca uma arma para atingir objectivos pessoais e, sabe-se lá, se obscenos».

Em 1919 nasce com o nome do bairro que foi seu berço – Belém –, com as cores do mar e do céu – o azul – e com a Cruz de Cristo que passou a ostentar orgulhasamente no lado esquerdo do peito da sua camisola. Com Artur José Pereira à frente, os rapazes da praia iniciam a sua caminhada nos campos de futebol, modalidade n.º1 do clube, desde sempre e para sempre. Todavia, e apenas dois anos mais tarde, o Belenenses praticava já outras modalidades e lançava-se numa das suas bandeiras de sempre, ainda hoje ostentada com justificado orgulho: o ecletismo!

Em 87 anos de vida, os azuis conquistaram títulos em praticamente todas as modalidades colectivas e individuais praticadas em Portugal. Do Futebol ao Ténis de Mesa, do Xadrez ao Hoquei-de-Campo, do Basquetebol ao Andebol. O Rugby, surgido no clube a 31 de Dezembro de 1928, rapidamente ganhou adeptos e praticantes, e é hoje a modalidade com maior palmarés no contexto belenense.

O clube passou por bons e maus momentos. Perdeu o Campo das Salésias (ou Estádio José Manuel Soares «Pepe»), despejado por interesses ainda hoje mal explicados. Renasceu no Restelo, em 1956, e ganhou novas forças e ânimo para continuar a sua batalha de sempre: «o desenvolvimento e a prática da Educação Física, a promoção e fomento de todos os desportos em geral e do futebol em especial, bem como de outras actividades de cultura e recreio». Mais do que isso: contrariamente à acusação que lhe lançam os mais ignorantes ou mal intencionados, o Belenenses continuou a resistir aos poderes instituídos (nunca beneficiou de nenhuma suposta ligação ao Estado Novo, muito pelo contrário...) e a provar que é possível formar atletas, campeões, mulheres e homens à custa do esforço próprio.

Os 87 anos do Belenenses são feitos de muito sangue, suor e lágrimas. Muitas alegrias e muitas tristezas, estas cada vez mais frequentes nos dias que correm. Eles são, mais do que um somatório de títulos e resultados desportivos, 87 anos de intensa vivência do fenómeno desportivo, sempre cultivando o jogo limpo, a rectidão e o espírito real do bairrismo da zona de Belém.

Sobre esta forma de estar no desporto e na vida, recordamos as palavras do «Menino Jesus» (o primeiro guarda-redes da equipa de futebol do Belenenses, Mário Duarte), numa histórica assembleia geral do clube, realizada em 1923: «aos meus companheiros das lides sportivas, eu direi, num apelo muito franco: Honrae o sport, porque aquele que o pratica honrosamente, ganha, mesmo quando perde».

Hoje, e não obstante todos os problemas com que se vem confrontando o futebol profissional do clube, o Belenenses pode (e deve, com justiça e sem favor) ser considerado não o «quarto grande», mas antes «um dos quatro grandes clubes portugueses». A sua história, o seu presente e a forma como certamente encontrará meios para construir o futuro provam-no!

Sejamos nós, belenenses do século XXI, capazes de honrar – de uma vez por todas e sem tibiezas ou hesitações! – o legado de milhares de homens e mulheres que, ao longo destes 87 anos de clube e 50 «de Restelo», construiram este Clube de Futebol «Os Belenenses», emblema «consagrado e popular» (como canta o seu Hino), que tem por natureza os olhos postos no futuro, sem desligar os corações do passado!

Vivam os Belenenses!
Viva o cinquentenário do Estádio do Restelo!
Viva o Clube de Futebol «Os Belenenses»!

«Belém! Belém! Belém!»

Nota:

Para que os nossos leitores menos conhecedores da história e palmarés do Belenenses possam ter uma noção aproximada da real dimensão do clube, aconselha-se a leitura do artigo «Os Belenenses - 86 Anos de Sucessos», da autoria de Eduardo Torres, publicado há precisamente um ano, no Blog Belenenses Sempre. Naturalmente que no último ano novos títulos se somaram aos que são inumerados no referido artigo.

1 Comments:

At 12:00 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Rui Vasco, subscrevo tudo o que escreveste!

Parabéns a todos os Belenenses!

 

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