Portugal deu esta tarde um importante passo em direcção ao Mundial de França, ao bater a bem organizada selecção da Rússia por 26-23, num jogo impróprio para cardíacos, ao qual assistiu muita gente, tomando como padrão as habituais assistência do Rugby nacional. Foi uma tarde de festa, em todos os sentidos, e com o desfecho a condizer com o desejo dos milhares de pessoas que se dirigiram ao Estádio Universitário de Lisboa, para ajudar a selecção a ultrapassar este difícil obstáculo.
Portugal havia encontrado a Rússia por duas vezes em 2006, e se em Fevereiro se queixou (e com justiça) de um empate concedido pelo árbitro aos russos, no Torneio das Nações IRB a equipa nacional foi batida «sem apelo nem agravo» por uma equipa de leste que provou jogar bom Rugby. Era por isso com grande expectativa que se aguardava o embate de hoje, verdadeiramente «a doer», já que a derrota colocava uma das equipas de fora da corrida ao Mundial!
O jogo voltou a ser de tripla, com constantes alterações no marcador e com a vantagem a pertencer ora a uma equipa, ora à outra.
Entraram melhor os russos, que com apenas dois minutos jogados já venciam por 5-0, após ensaio obtido pelo seu 2º centro e capitão de equipa (para mim o melhor russo em campo). A conversão, aparentemente fácil, foi falhada pelo formação (chutador de serviço dos homens de azul), e a partir desse momento foi Portugal quem tomou conta do jogo, empurrando o XV do leste para o seu meio campo.
Legenda: José Pinto.
O primeiro aviso da eminência do ensaio luso surgiu com uma fabulosa arrancada do formação José Pinto, jogador que hoje esteve inspirado, comandando as operações da equipa em conjunto com o formação portuense Gonçalo Malheiro.
A pressão portuguesa acentuava-se, e Pedro Leal combinou bem com o ponta António Aguilar, que furou através da muralha azul para marcar o primeiro ensaio português da tarde debaixo dos postes, convertido por Malheiro.
Legenda: Gonçalo Malheiro.
A primeira parte terminava com vantagem portuguesa (10-8) e com o resultado em aberto.
A abrir o segundo tempo, novo ensaio russo, aproveitando um momento de desorganização defensiva da equipa portugesa e forçando a entrada na área de validação lusa através da força do seu pack, dominador nas fases estáticas (em particular nos alinhamentos, situação do jogo em que os russos tiveram enorme vantagem e aproveitamento, face à equipa portuguesa).
O marcador passava a registar 10-13 e o Estádio Universitário acordava para uma etapa complementar durante a qual, dentro e fora do campo, tudo se fez para levar Portugal à 6ª ronda de qualificação para o Mundial.
Portugal igualou por duas vezes, e por duas vezes os russos se adiantaram no marcador, incluindo através de novo ensaio (desta feita convertido).
Tomaz Morais mexeu na equipa e lançou Cristian Spachuk para a 1ª linha (por troca com Rui Cordeiro), refrescando o pack e tentando dar maior consistência ao jogo dos avançados lusos. Fez também entrar Luis Pissarra para o lugar de José Pinto e Cardoso Pinto para as funções de abertura, por troca com um esgotado Gonçalo Malheiro, a realizar o primeiro jogo pela selecção em vários meses.
Os russos continuaram a dominar nos alinhamentos, mas foi Portugal - que passou muito tempo da segunda parte dentro do seu meio campo - a dar a volta ao resultado, através de uma penalidade aproveitada por Cardoso Pinto e um espectacular ensaio apontado por Diogo Mateus, após entendimento com o 2ª linha Marcelo d'Orey, naquele que terá sido um dos momentos mais espectaculares e emocionantes da tarde. Convertido o ensaio, os portugueses voltavam a posicionar-se na frente!
Nos últimos minutos a equipa russa pressionou bastante e teve mesmo hipótese de chutar aos postes, quando o árbitro irlandês concedeu uma penalidade ao minuto 79. A ordem foi todavia chutar para a «touche», tentando aproveitar a nítida desvantagem lusa nesse capítulo do jogo, e procurando o ensaio (em vez dos 3 pontos do pontapé, que apenas concederiam o empate).
A decisão demonstrou-se errada, já que não há regra sem excepção, e Portugal conquistou a bola decisiva.
Aos 85 minutos suava o apito final, originando-se a segunda invasão de campo da tarde (após um «falso alarme», minutos antes, quando ao apitar para a marcação de uma «touce» o juiz da partida confundiu o público, que assim iniciou a comemoração da vitória antes de tempo!).
O momento é pois de alegria, após esta dura vitória conquistada face a um adversário do nosso campeonato, e que poderia ter vencido. Felizmente para todos nós, a vitória foi lusitana, e os nossos «Lobos» seguem em frente na qualificação.
O próximo adversário será a Geórgia, equipa que bateu esta manhã a Espanha (em casa) por 37-23. Trata-se de uma selecção poderosa, quase totalmente constituída por jogadores profissionais e semi-profissionais, a alinhar em França. A Geórgia já se encontrou aliás com Portugal durante o ano de 2006 (11 de Março), tendo então vencido por 40-0... resultado que certamente não se repetirá!
Os «Lobos» sobem assim mais um degrau, sem euforias desmedidas (as quais não se justificam), mas com mais confiança!
Parabéns, Portugal! Hoje mostrámos o nosso valor, dentro e fora de campo!